14/11/2024 | AERO em Revista

O Sequestro do VASP 280

Em 2000, o emblemático sequestro do voo 280 da VASP expôs falhas de segurança na aviação brasileira, influenciando normas e sistemas até hoje.
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O SEQUESTRO DO VASP 280

Em 16 de agosto de 2000, o voo 280 da VASP, que partia de Foz do Iguaçu rumo ao Rio de Janeiro, foi surpreendentemente sequestrado por um grupo de criminosos. Este episódio marcou a aviação brasileira, tanto pela ousadia do crime quanto pelas falhas na segurança dos aeroportos, evidenciadas durante a ocorrência. O caso é lembrado até hoje como um dos sequestros de aeronave mais emblemáticos do país.

A bordo do Boeing 737-200, estavam 61 passageiros, incluindo muitos turistas estrangeiros que voltavam das Cataratas do Iguaçu, além de uma carga de R$ 5 milhões (aproximadamente 16 milhões no valor de hoje) em nove malotes de dinheiro da empresa TGV, destinados ao Banco do Brasil. O voo transcorria sem anormalidades até que, doze minutos após a decolagem, cinco passageiros armados tomaram o controle do avião, invadindo a cabine de comando.

Naquela época, as normas de segurança aeroportuária eram significativamente menos rigorosas, o que facilitou a ação dos sequestradores. Diferentemente dos dias atuais, onde é praticamente impossível embarcar com uma arma de fogo, os procedimentos de segurança nos aeroportos eram mais flexíveis, o que permitiu a entrada dos criminosos armados. Além disso, as aeronaves ainda não contavam com as tecnologias de segurança que hoje é padrão na aviação, um fator que contribuiu para o êxito do sequestro.

Os sequestradores rapidamente dominaram o piloto e o copiloto, evitando qualquer tentativa de sinalizar o sequestro, como o uso do código 7500. A tripulação e os passageiros foram informados de que, apesar da situação, todos estariam seguros e chegariam ao destino sem problemas. A passageira Christina Siepiela, jovem advogada que embarcou em Foz do Iguaçú, conta que um sequestrador armado (provavelmente Borelli) ordenou que todos colocassem as mãos sobre o assento da frente e ficassem imóveis. Contudo, a comunicação foi um grande desafio para os passageiros que não falavam português, gerando momentos de pânico. Em meio ao desespero, um passageiro de origem chinesa tentou abrir a porta de emergência, mas foi contido.

O verdadeiro alvo dos sequestradores não era a aeronave ou os passageiros, mas sim o dinheiro transportado. Durante o voo, eles identificaram Joelson Gois Maciel, responsável por acompanhar a carga de valores, e confirmaram com ele a presença dos malotes de dinheiro. Embora tivessem expectativas de um valor maior, os sequestradores decidiram seguir com o plano.

Eles exigiram que o comandante desviasse a rota para o aeroporto de Porecatu, no Paraná. O piloto, Sérgio Carmo dos Santos, argumentou que a pista não teria capacidade para receber um Boeing 737, mas, ao contrário do que alegou, o aeroporto era adequado para o pouso. Palermo, um piloto experiente, já havia se preparado e pesquisado as condições do local, insistiu, e o pouso foi feito com sucesso. 

Uma vez em solo, os criminosos rapidamente transferiram os malotes de dinheiro para uma caminhonete Ford Ranger que os aguardava próxima à pista. O aeroporto de Porecatu, pouco monitorado e com baixa segurança, facilitou essa movimentação. Assim, sem grandes dificuldades, o grupo deixou o local levando o dinheiro, deixando os passageiros e a tripulação em estado de choque.

Logo após a fuga dos sequestradores, o comandante conseguiu restabelecer a comunicação com a torre de controle, que estivera sem sinal desde o início do sequestro. A aeronave seguiu então para Londrina, onde a polícia aguardava para iniciar as investigações. Todos os passageiros passaram por uma verificação de identidade, mas nenhum dos sequestradores estava entre eles. Eles foram posteriormente encaminhados a outros voos, podendo retornar às suas casas.

A investigação foi conduzida com rapidez, utilizando retratos falados construídos com a ajuda dos passageiros, levando as autoridades a identificar Marcelo Moacir Borelli como líder do grupo criminoso, com Gerson Palermo como seu principal auxiliar. Borelli, já conhecido por crimes relacionados ao transporte de valores, foi prontamente ligado ao caso. Apesar dos esforços investigativos, o montante de R$ 5 milhões nunca foi totalmente recuperado, e muitos detalhes da operação ainda permanecem obscuros.

Gerson Palermo, notório criminoso e piloto, com histórico de sequestros e envolvimento no narcotráfico, acumula penas que somam mais de 126 anos de prisão. No sequestro do voo 280, Palermo foi preso pouco tempo depois com uma pequena parte do valor roubado, mas o restante do dinheiro nunca reapareceu. Em 2005, ele liderou uma rebelião que resultou em sete mortes no presídio de Mato Grosso do Sul. Anos mais tarde, após obter prisão domiciliar, Palermo violou a tornozeleira eletrônica e permanece foragido, o que resultou em investigações sobre o desembargador que concedeu sua liberdade, culminando no afastamento do magistrado pelo STJ.

O Boeing 737 usado no voo 280 foi retirado de operação e desmontado como sucata em 2011, após a falência da VASP, apesar dos apelos para que fosse preservado como peça histórica. Marcelo Borelli, condenado a 177 anos e conhecido por sua violência, faleceu em 2007, vítima de AIDS, na penitenciária de Piraquara, no Paraná. O caso deixou uma marca profunda na aviação brasileira, revelando falhas de segurança e a ousadia dos criminosos envolvidos.

O sequestro do voo 280 marcou um ponto de virada para a segurança na aviação brasileira, ao expor vulnerabilidades nos aeroportos e nos sistemas de transporte de valores, motivando uma série de revisões e melhorias nas normas ao longo dos anos.