04/03/2025 | Brasil a Calicute

Mossel Bay . A Aguada de São Brás

Exploramos Mossel Bay, seu legado português e um encontro inspirador com Nic Walker, historiador local. Um diário de descobertas e conexões.
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Diário de Bordo - 4 de março de 2025

O dia começou com a missão de recuperar a valise do Frank. Alguns telefonemas para a empresa de táxi foram suficientes para resolver a questão, trazendo um alívio imediato. Com a tranquilidade restabelecida, aproveitamos nosso café da manhã admirando a deslumbrante vista da Baía de Mossel Bay, um ponto estratégico para os grandes navegadores portugueses, como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Era evidente por que essa baía se tornara um dos principais pontos de apoio das frotas lusitanas: após enfrentar as dificuldades do Cabo, encontrar um refúgio tranquilo, com abundância de água doce e leões-marinhos, era um verdadeiro presente para qualquer marinheiro. Nos registros históricos, o local era denominado Aguada de São Brás, em referência ao santo do dia em que Bartolomeu Dias o descobriu, 3 de fevereiro de 1488.

Nossa pousada ficava no alto de uma colina e, como dizem, "para descer, todo santo ajuda". Sem pensar muito na subida que nos aguardava na volta, seguimos a pé até o museu. Em uma visita anterior, adquiri um livro fascinante intitulado "Os Portugueses e Mossel Bay – Como a Baía de São Brás Ajudou a Mudar o Mundo". Nos créditos, descobri que o autor, Nic Walker, morava na cidade e atuava como diretor do Museu Bartolomeu Dias. Curioso para conhecê-lo, perguntei à gerente do museu se havia possibilidade de um encontro. Para minha surpresa, ela prontamente ligou para ele.

Pouco tempo depois, Nic Walker chegou acompanhado de sua esposa, Gail. Ele caminhava com certa dificuldade, apoiado em uma bengala, devido a um problema de saúde, mas, mesmo assim, fez questão de nos receber. Seu currículo impressionava: PhD pela Uppsala University, no Zimbábue, graduado em zoologia e antropologia pela Universidade do Cabo e em museologia pela Leicester University. Além disso, havia dirigido museus no Zimbábue, Escócia e Botsuana, e atualmente integrava o comitê gestor do Museu Bartolomeu Dias, em Mossel Bay, onde residia.

Nossa conversa foi entusiasmada e produtiva. Compartilhamos detalhes sobre nosso projeto, e eles se mostraram interessados em informações que desconheciam devido à barreira linguística com o português e à dificuldade de acesso a literatura traduzida. Combinamos de manter contato para trocar atualizações. Ele autografou alguns livros para aqueles que nos apoiavam na expedição e trocamos contatos.

Convidamos Nic e Gail para almoçar, e eles nos levaram ao restaurante à beira-mar chamado Mozambique. Como não estávamos dirigindo, nos permitimos saborear uma deliciosa cerveja gelada acompanhada de um peixe espetacular. A conversa fluiu naturalmente. Gail, extrovertida e perspicaz, me bombardeou com perguntas sobre o Brasil, enquanto eu fazia o mesmo sobre a África. O tempo passou sem que percebêssemos. Ao final da refeição, uma agradável surpresa: recebemos 20% de desconto, pois era o dia do pensionista, e todos à mesa, exceto eu, se encaixavam na categoria.

Antes de nos despedirmos, o casal recomendou uma visita aos museus de Joanesburgo, onde se encontra um acervo significativo sobre as navegações portuguesas. Gentilmente, nos deram carona e ainda nos mostraram sua casa, localizada a poucas quadras da nossa pousada. Passei o restante da tarde registrando as novas informações e refletindo sobre as questões que surgiram ao longo do dia.