28/08/2025 | CULTURA em Revista
A Jornada que Mudou o Mundo: Pedro Álvares Cabral e o Oriente

Desde a Idade Média, os europeus buscavam produtos orientais de luxo, sobretudo especiarias, fundamentais para alimentação, perfumes, medicamentos e rituais. Veneza monopolizou esse comércio ao intermediar cargas vindas do Oriente, mas a queda de Constantinopla (1453) e a expansão turca fecharam rotas tradicionais, elevando preços e tributos. Portugal, país pequeno, mas com posição geográfica privilegiada no Atlântico, desenvolveu forte tradição marítima e viu na navegação uma alternativa para alcançar diretamente os mercados orientais, evitando intermediários.
A expansão portuguesa começou em 1415, com a conquista de Ceuta, marco de uma política de expansão territorial, comercial e religiosa. Sob influência do Infante D. Henrique, o Navegador, os portugueses exploraram a costa africana em busca de ouro, marfim, escravos e especiarias. Redescobriram arquipélagos atlânticos, desenvolveram comércio na Guiné e visavam também encontrar o lendário reino cristão do Preste João.
No reinado de D. João II (1481-1495), os avanços foram decisivos: Diogo Cão chegou ao Congo, e Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa Esperança (1488), provando ser possível atingir o oceano Índico por mar. O Tratado de Tordesilhas (1494) consolidou direitos portugueses sobre o Atlântico sul, preparando o caminho para a viagem de Vasco da Gama, que em 1498 alcançou Calicute, na Índia. O feito abriu possibilidades comerciais, mas trouxe também desafios políticos e resistência árabe e indiana.
D. Manuel I, o Venturoso, decidiu enviar nova e maior expedição para consolidar a presença portuguesa no Oriente. A frota, com treze navios e cerca de 1.200 homens, foi confiada a Pedro Álvares Cabral, nobre de prestígio. Entre os capitães estavam Bartolomeu Dias, veterano das explorações africanas.
Em 9 de março de 1500, a esquadra partiu de Lisboa, após cerimônia solene. Seguindo as orientações náuticas da época, afastou-se bastante da costa africana para aproveitar ventos favoráveis. Essa manobra resultou no descobrimento do Brasil em 22 de abril de 1500, quando avistaram o Monte Pascoal. Os portugueses desembarcaram, travaram contatos pacíficos com os nativos e batizaram a terra como Terra da Vera Cruz. Um navio foi enviado de volta a Portugal para anunciar a descoberta, enquanto o restante da frota seguiu viagem.
Após deixar o Brasil, a expedição enfrentou forte tempestade no Atlântico Sul, perdendo quatro navios, inclusive o de Bartolomeu Dias. Os sobreviventes reuniram-se em Moçambique (julho de 1500), prosseguindo com auxílio de pilotos locais. Passaram por Quilôa, Mombaça e foram bem recebidos em Melinde, onde contrataram guias para a Índia.
Em setembro de 1500, Cabral chegou a Calicute. Inicialmente buscou negociar com o Zamorin, governante local, e fundar uma feitoria. Contudo, a rivalidade dos comerciantes árabes, que dominavam o comércio de especiarias, levou a hostilidade. Uma revolta culminou no ataque à feitoria portuguesa: cerca de cinquenta homens foram mortos. Em represália, Cabral incendiou navios árabes e bombardeou Calicute, rompendo relações com o Zamorin.
Sem condições de permanecer, Cabral voltou-se para reinos rivais do Zamorin, como Cochim e Cananor, que buscavam apoio contra Calicute. Nessas cidades, os portugueses foram bem recebidos e conseguiram carregar especiarias, estabelecendo os primeiros vínculos diplomáticos e comerciais estáveis na Índia.
Na viagem de retorno, a frota parou novamente em Moçambique, Sofala e no Cabo da Boa Esperança. Apenas seis navios retornaram a Portugal (julho de 1501), dos quais cinco com carga de especiarias. Apesar das perdas humanas e materiais, a viagem provou a viabilidade do comércio regular com a Índia e marcou o início da estratégia portuguesa de alianças locais e uso da superioridade naval para dominar rotas marítimas.
Além disso, a viagem teve outros efeitos duradouros:
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Descoberta oficial do Brasil, incorporado ao domínio português.
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Choque militar e religioso com árabes e indianos, inaugurando rivalidade que definiria o domínio português no Índico.
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Impacto econômico europeu, enfraquecendo Veneza e o Egito mameluco, que perdiam o monopólio do comércio oriental.
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Projeção internacional de Portugal, que se tornou protagonista do comércio global no início do século XVI.
Embora marcada por perdas (seis navios afundados, fracasso em Calicute), a expedição de Cabral consolidou os planos de D. Manuel e abriu caminho para novas expedições, como a de João da Nova (1501) e a segunda de Vasco da Gama (1502). A estratégia de feitorias, alianças com reinos locais e domínio militar do mar asseguraria a hegemonia portuguesa no Oriente por mais de um século.
Franco Giuseppe Rovedo,
64, é administrador (CRA 200653) formado e pós-graduado em Ciências Aeronáuticas pela Universidade Tuiuti do Paraná. Jornalista, escritor, editor e designer na CBT Brasil Editora Multimídia.
Autor de diversos livros didáticos na área de matemática e transportes. Autor dos romances: “A Flor da Pele”, na 4ª edição e “A Luz das Velas” em sua 2ª edição. Autor dos livros de contos e crônicas: “Vento de Proa” e “Farol das Conchas”. Autor do livro “Breve História da Aviação sob a ótica da instrução e aprendizagem” e do livro “Primeiros Socorros em Quadrinhos”. Tradutor em três idiomas estrangeiros: Inglês, Italiano e Espanhol. Tradutor dos romances “USS Bacalao” - EUA, “A Vida Jamais Dura uma Noite” - Itália, “Onda de Medo” - EUA, “O Velho e o Rei” - EUA.
Historiador sobre o Aeroclube do Paraná e participação em diversas biografias de seus personagens da história. Autor do livro “O Voo do Albatroz” referente a registros históricos e biografias dos atletas de paraquedismo do Aeroclube do Paraná. Diretor de Arte na TV Gazeta em Cuiabá-MT. Foi responsável pela cobertura jornalística da maior feira de aviação do mundo, em Oshkosh, EUA, em 1994. Diretor de Vídeos e Multimídias com experiência em programação em diversas plataformas. Atua como Perito Judicial na área de Transportes. Acadêmico organizador e editor da 1ª e da 3ª Coletânea da Academia de Cultura de Curitiba – O Pensador - ACCUR. 2020 e 2025, organização do qual é acadêmico efetivo. Também membro do Centro de Letras do Paraná, do Centro de Letras de Paranaguá e imortal da Academia de Letras do Brasil. Possui dupla cidadania Brasileira/Italiana. Editor de vários outros autores. Atualmente é editor da AERO em Revista e da CULTURA em Revista. Outras atividades: Professor, Aviador, Paraquedista, Motociclista, Mergulhador e Arrais amador.
Minha jornada pela África do Sul foi muito mais do que uma viagem; foi uma imersão na história das grandes navegações. Percorri, uma a uma, as cidades por onde Pedro Álvares Cabral e outros navegadores portugueses passaram, seguindo seus rastros no caminho para as Índias. Cada porto, cada paisagem, cada encontro com a cultura local trouxe ecos do passado e me aproximou das escolhas e desafios enfrentados pelos homens do mar no século XVI.
Dessa experiência nasceu o livro “Diário de Bordo – África do Sul”, em que registrei impressões, reflexões e paralelos entre minha travessia contemporânea e a epopeia cabralina. O projeto integra a pesquisa maior “Do Brasil a Calicute – A sequência do Descobrimento”, que busca reconstruir, passo a passo, a trajetória que redefiniu o mapa do mundo e deu início a uma nova era para Portugal e para o Brasil.