23/04/2025 | Brasil a Calicute

A Viagem de Gaspar de Lemos

Análise inédita sugere que Gaspar de Lemos explorou profundamente o litoral brasileiro antes de retornar a Portugal com a carta do achamento.
#RevistaMarítimaBrasileira #Publicação #Orgulho #História #PesquisaNaval
#GasparDeLemos #PedroAlvaresCabral #DescobrimentoDoBrasil #MapaDeCantino #HistoriaDoBrasil #NavegacaoPortuguesa #BrasilColonial #Caravela #ExploradoresPortugueses #CulturaMaritima #RevistaMaritimaBrasileira #CulturaEmRevista #FrancoRovedo #CartografiaAntiga #Cabral #PortoSeguro #SantaMarta #HistoriaNaoContada #CabralExpedicao #CaboDeSantaMarta #TourosRN #AngraDosReis #BaiaDeTodosOsSantos #RioDeJaneiro1502 #IlhaDeSaoVicente #PeroVazDeCaminha #LendasDaIndia #TratadoDeTordesilhas #NavegacaoHistorica #ExploracaoCosteira

Ao nos aprofundarmos nas informações transmitidas pelos historiadores sobre a missão de Gaspar de Lemos, um dos capitães da frota de Cabral, torna-se oportuno questionar a perspectiva convencional que sugere o retorno imediato da embarcação a Lisboa após a descoberta. Discordando desse ponto de vista, apresento uma análise respaldada por fortes indícios que indicam uma exploração mais abrangente da costa brasileira por parte de Lemos, ultrapassando a simples entrega das cartas do achado.

O autor Gaspar Correa, conhecido por seus relatos em "Lendas da Índia", sempre se posicionou como uma voz dissidente nesse assunto. Por volta de 1550, já afirmava que Lemos não havia retornado diretamente para Lisboa. Embora não apresentasse argumentos específicos, sustentava sua posição alegando ter um conhecimento aprofundado sobre o tema, uma vez que conheceu pessoalmente alguns integrantes das navegações.

O clima de conspiração e as suspeitas de espionagem contribuíram para o aumento do nível de desinformação que perdurou ao longo dos séculos. O rei de Portugal, ameaçando com a pena de morte aqueles que copiassem ou divulgassem informações técnicas sobre as navegações, intensificou ainda mais o sigilo em torno dessas expedições.

O primeiro ponto a ser ponderado é a lógica por trás das decisões de Pedro Álvares Cabral. Um líder como ele não desperdiçaria recursos enviando uma caravela de volta a Portugal sem explorar minimamente a recém-descoberta costa. A exploração seria uma medida sensata para assegurar que não se tratava apenas de uma ilha, mas sim de uma vasta terra a ser meticulosamente mapeada.

Outro aspecto relevante é a seleção da caravela de Gaspar de Lemos. Desprovida de carga e armada com velas latinas, características ideais para navegação costeira, a embarcação sugere que sua jornada não se limitou ao simples retorno a Lisboa. A leveza da caravela indica uma exploração mais ágil e eficiente, sustentando a hipótese de uma incursão ao longo da costa brasileira.


Imagem: Mapa de Cantino

A análise do Mapa de Cantino, datado entre 1500 e 1502, emerge como uma testemunha fundamental. Ao revelar a presença da baía de Porto Seguro, mas também marcar o Cabo de Santa Marta abaixo do trópico de Capricórnio, o mapa sugere uma exploração minuciosa dessa região. A presença de um cabo no mapa indica uma observação próxima da costa, enfatizando a precisão necessária para identificar elementos geográficos específicos. Mesmo que aproximada, a marcação no mapa corresponde a algo entre -25 e -28 graus de latitude, justamente a latitude do atual Cabo de Santa Marta, no Estado de Santa Catarina, sul do Brasil.

A data assinalada no mapa, 29 de julho, coincide com o dia de Santa Marta, uma observação de importância. Levando em conta que a frota de Cabral já estava em Quiloa, na África Oriental, nessa data, é plausível que Gaspar de Lemos tenha feito essa anotação, associando-a à prática comum de nomear acidentes geográficos conforme o santo do dia da descoberta. É razoável supor que, após dois meses e meio de exploração, Lemos já houvesse passado por esta posição.

Aproximadamente, a distância entre Porto Seguro e o Cabo de Santa Marta é de 2000 km ou 1200 NM. Considerando uma média de 4 nós de velocidade, Lemos teria alcançado o cabo em cerca de 13 dias. Outros indícios menos substanciais sugerem que ele pode ter se dirigido até a foz do Rio da Prata e investigado os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. 

A fidelidade do desenho no mapa em relação ao relevo da região reforça a ideia de que Gaspar de Lemos teria explorado e cartografado a costa brasileira com certos detalhes. Adicionalmente, até 1502, ninguém havia provado ter navegado tão ao sul. Mesmo Américo Vespúcio, que fez tal afirmação, não estava nem perto do Cabo de Santa Marta quando o mapa foi feito, lançando dúvidas sobre a precisão das alegações de outros exploradores.

Na carta que se diz ter sido escrita por Dom Manuel ao rei Fernando em 1505, consta que o rei português possuía um mapa que mostrava a viagem de Cabral. O mapa de Cantino mostra um padrão português em Sofala, bem como em Moçambique, Quilôa e Melinde. Dado que Vasco da Gama não visitou Sofala, esta bandeira indica provavelmente que o mapa foi feito, em parte, a partir de informações obtidas durante a viagem de Cabral.

O vazamento precoce das informações do mapa por comerciantes venezianos, relatando a descoberta de um continente e não de uma ilha, suscita suspeitas sobre a natureza da informação vazada, indicando uma exploração mais extensa por parte de Gaspar de Lemos e o vazamento desta informação.

Ao reunir esses indícios, argumento que a expedição de Gaspar de Lemos transcendeu a simples entrega das cartas do descobrimento. A exploração costeira minuciosa, evidenciada por elementos cartográficos e características da nave, desafia a narrativa tradicional, sugerindo uma jornada mais abrangente e estratégica ordenada por Cabral. Esta reinterpretação dos eventos lança luz sobre nuances históricas anteriormente negligenciadas, ampliando nossa compreensão do início da exploração do Brasil pelos portugueses.


Gaspar de Lemos, navegador português do século XVI, desempenhou um papel significativo na frota de Pedro Álvares Cabral, que chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500.
Quanto às origens de Gaspar de Lemos, pouco se sabe diretamente. Há especulações de que ele seja descendente de uma família de nobres, possivelmente originária do reino de Galiza, que migrou para Portugal durante o reinado de Afonso IV (1325-1357). Essa família teria recebido terras e estabelecido suas posses sob o reinado de D. João I. Embora as fontes não forneçam informações específicas sobre suas origens, alguns livros portugueses ilustram verbetes sobre Gaspar de Lemos usando as armas da família Lemos.


 (Imagem: Brasão da Família Lemos)

Gaspar de Lemos foi designado por Cabral como comandante da embarcação responsável pelo transporte de mantimentos. Sua missão incluía o retorno a Portugal após uma breve estadia nas terras de Vera Cruz, levando notícias ao rei D. Manuel I sobre a descoberta do que se acreditava ser uma ilha. Após o retorno a Portugal com a carta de Pero Vaz de Caminha, comunicando o achamento, Gaspar de Lemos voltou ao Brasil em 1501 numa expedição exploratória das terras continentais alegadamente descobertas por Vicente Yáñez Pinzón, em companhia de Américo Vespúcio.
Partindo de Lisboa em 10 de maio de 1501 e retornando em 7 de setembro de 1502, Gaspar de Lemos realizou diversos feitos durante essa expedição:
•    Em 7 de agosto de 1501, instalou o primeiro padrão português conhecido no Brasil, em Touros, Rio Grande do Norte.
•    Em 1 de novembro de 1501, descobriu a baía que batizou de Baía de Todos os Santos.
•    Em 1 de janeiro de 1502, descobriu a baía da Guanabara, que confundiu com um rio e chamou de Rio de Janeiro.
•    Em 6 de janeiro de 1502, fundou Angra dos Reis.
•    Em 22 de janeiro de 1502, descobriu a ilha de São Vicente.


Muito feliz em compartilhar uma conquista especial: tive meu artigo publicado na Revista Marítima Brasileira, uma das mais respeitadas e tradicionais publicações do país. Fundada em 1851, ela é a revista naval mais antiga ainda em circulação no Mundo — e começou a ser distribuída dois anos antes dos meus ancestrais chegarem em Superagui. ✨

Além do seu valor histórico, a revista possui padrão Qualis, um sistema de avaliação da CAPES que classifica a qualidade dos periódicos científicos no Brasil. Ter um artigo publicado em uma revista Qualis é um reconhecimento importante na vida acadêmica e profissional.

É uma honra poder contribuir com esse legado. ⚓