01/11/2024 | AERO em Revista
Ada Rogato: A Mulher que Voou mais Alto
Ada Rogato é uma das figuras mais fascinantes da história da aviação brasileira. Pioneira em várias áreas, ela conquistou feitos impressionantes como aviadora e paraquedista, quebrando barreiras de gênero e desbravando caminhos em um mundo onde poucas mulheres ousavam ir. Seu legado é um exemplo de coragem, determinação e paixão pelos céus, fazendo de Ada uma verdadeira inspiração para as gerações que vieram depois.
Um começo audacioso
Nascida em São Paulo, em 22 de dezembro de 1910, Ada Rogato cresceu em uma época em que os papéis das mulheres eram fortemente limitados à vida doméstica e familiar. Mas, desde cedo, ela mostrou que não aceitaria essas restrições. Apaixonada pela aviação, Ada começou a aprender a pilotar e, em 1936, obteve seu brevê de piloto de avião – uma conquista notável, especialmente em uma era em que as mulheres eram raramente vistas em cockpits.
Mas Ada não parou por aí. Determinada a dominar os céus em todas as suas formas, ela também se interessou pelo paraquedismo, um esporte radical e perigoso que começava a ganhar popularidade.
Pioneira no paraquedismo
Em 1940, Ada Rogato tornou-se a primeira mulher brasileira a obter o brevê de paraquedista, marcando mais um feito histórico em sua carreira. Saltar de um avião naquela época era algo reservado a muito poucos, e o equipamento disponível estava longe de ser o que conhecemos hoje. Cada salto era um verdadeiro teste de coragem, e Ada fez mais de 200 saltos ao longo de sua vida.
O paraquedismo não era apenas um esporte para Ada; era uma maneira de explorar os céus de uma forma ainda mais intensa. Saltar de grandes altitudes, sentir o vento no rosto e confiar na precisão do próprio julgamento mostrava sua ousadia e confiança. Nessa época, o paraquedismo era algo associado a testes militares e feitos heroicos, e Ada se encaixava perfeitamente nessa descrição.
A grande aventura: seu voo pela América Latina
Mas se o paraquedismo já era impressionante, os voos que Ada realizou a colocaram definitivamente na história da aviação. Em 1950, ela embarcou em uma jornada solo que cobriria 17 mil quilômetros pela América Latina, pilotando um avião monomotor Cap-4 Paulistinha, que tinha um motor de apenas 65 HP – muito menos potente do que muitos carros atuais.
Ada partiu de São Paulo, cruzando o continente sul-americano sozinha. Ela voou por países como Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, enfrentando condições climáticas adversas, terrenos montanhosos e grandes áreas desabitadas. A travessia mais impressionante dessa jornada foi sobre a Cordilheira dos Andes, um dos maiores desafios para qualquer piloto, especialmente em um avião tão pequeno e com recursos limitados.
A missão não era apenas ousada – ela era inédita. Ada tornou-se a primeira mulher a realizar um voo solo pela América Latina, superando obstáculos que muitos homens hesitariam em enfrentar. Sua coragem e tenacidade foram amplamente reconhecidas pela mídia da época, que a batizou de "a intrépida Ada".
Primeira mulher a sobrevoar a Amazônia
Após essa aventura, Ada Rogato continuou a realizar voos históricos. Em 1951, ela tornou-se a primeira piloto a sobrevoar a Floresta Amazônica. Esse feito foi particularmente arriscado, pois a Amazônia é uma região notoriamente difícil para voos, com densa vegetação, tempestades imprevisíveis e poucos pontos de pouso seguros
Mesmo com essas dificuldades, Ada persistiu e completou seu voo, mostrando mais uma vez que os desafios mais intimidantes não a impediam de conquistar seus sonhos. O que mais impressiona nessa jornada é o fato de que ela estava sozinha, sem contar com uma infraestrutura moderna de apoio ou tecnologia avançada de navegação, o que tornava sua missão ainda mais incrível.
Três hemisférios e o voo além das fronteiras
Em 1952, Ada Rogato se destacou mais uma vez ao se tornar a primeira piloto a voar pelos três hemisférios – Sul, Norte e Oeste – algo que poucos haviam realizado. Ela cruzou fronteiras geográficas e sociais, provando que, com determinação e habilidade, era possível ir além das expectativas impostas pela sociedade.
Ada acumulou em sua carreira um total de 5.000 horas de voo, um número impressionante considerando as dificuldades da época. Sem patrocínios significativos, ela financiava muitas de suas viagens com seus próprios recursos, muitas vezes dormindo no próprio avião durante as travessias. Isso mostra não só seu amor pela aviação, mas também sua incrível resiliência e capacidade de adaptação.
Desafios enfrentados
Ser uma mulher em um campo de maioria absoluta masculina trouxe uma série de desafios para Ada Rogato. Ela enfrentou preconceitos e ceticismo de muitas pessoas que não acreditavam que uma mulher pudesse realizar feitos tão grandiosos na aviação. Além disso, os recursos financeiros eram escassos, o que significava que ela tinha que improvisar muitas vezes, enfrentando os riscos sozinha.
Além dos obstáculos sociais, havia o perigo físico. Os aviões da época não eram nem de perto tão seguros ou confortáveis quanto os de hoje, e cada voo representava um risco real de falha mecânica ou acidente. O paraquedismo também era um esporte que demandava muita confiança no equipamento e na própria habilidade.
No entanto, esses desafios não impediram Ada de continuar voando e saltando de paraquedas. Ela nunca deixou que as limitações externas definissem o que ela poderia ou não fazer.
O legado de Ada Rogato
Ada Rogato nos deixou em 1986, mas seu legado continua vivo. Ela foi uma verdadeira pioneira em áreas que ainda eram inexploradas por mulheres, abrindo caminhos para futuras gerações de aviadoras e paraquedistas. Sua vida é um testemunho de como a paixão, a perseverança e a coragem podem superar as adversidades mais difíceis.
Seu nome, embora não tão amplamente conhecido quanto deveria, é sinônimo de ousadia e inovação. Ada provou que os sonhos, por mais altos que sejam, podem ser alcançados com determinação e vontade de voar além dos horizontes.
Hoje, ela é lembrada como uma das grandes figuras da aviação brasileira e mundial, uma mulher que enfrentou o desconhecido e saiu vitoriosa, deixando uma marca que transcende o tempo e as fronteiras.
Conclusão: a mulher que voou mais alto
Ada Rogato foi mais do que uma aviadora e paraquedista. Ela foi uma desbravadora de novos caminhos, uma mulher que, mesmo enfrentando os maiores desafios, seguiu adiante com a cabeça erguida e o coração voltado para o horizonte. Sua história é inspiradora não apenas para quem ama aviação, mas para todos que acreditam que, com coragem, é possível alcançar qualquer sonho.
Voando por céus inexplorados, cruzando continentes e saltando de paraquedas, Ada mostrou que a verdadeira aventura é ter a coragem de se lançar no desconhecido. Ela viveu sua vida como uma prova de que o céu nunca foi o limite – foi apenas o começo de suas conquistas.