29/10/2024 | AERO em Revista

Nas Asas da Real

Um relato nostálgico de viagens pela Real, aventuras e aprendizado com o pai, um mecânico eletricista, que desperta a magia da infância e da vida no interior.
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Em suas andanças de trabalho como mecânico eletricista, meu pai gostava de me levar para onde ia. Essa convivência, aos poucos, despertou em mim uma admiração pelo ofício dele. Hoje, olhando à distância, parecíamos dois meninos em uma aventura em busca de momentos de serendipidade. Sempre surgiam trabalhos e convites para lugares inusitados.

Assim, frequentei as fazendas de café do norte do Paraná, onde ele instalava e consertava motores, geradores de eletricidade, além de reparar máquinas, carros e tratores. Em Curitiba, acompanhava-o às frentes de abertura da picada que se tornaria a rodovia Régis Bittencourt (Curitiba - São Paulo), onde ele prestava assistência mecânica aos poderosos tratores que rasgavam a mata, sem qualquer preocupação ambiental.

"Governar é abrir estradas" era o lema do governo da época. Nunca esquecerei a ida ao local onde hoje está a Represa Capivari-Cachoeira – quatro horas de viagem por estrada de terra para percorrer menos de 80 quilômetros. Lá, ouvi, com certo temor, os peões contarem sobre os esturros das onças rondando os acampamentos durante a madrugada. 

Em outra ocasião, fiquei fascinado com o espetáculo da dança feérica de milhares de vagalumes à borda da floresta. Também me maravilhei com a abundância de lambaris que habitavam os rios ainda intocados da região. 

Dormíamos em barracos rústicos, a que se chegava pisando em tábuas soltas sobre a lama. Sem saber, eu presenciava a construção de uma das mais importantes rodovias do país. Em São Paulo, estive com ele na época das comemorações do quarto centenário da cidade – onde comi pizza pela primeira vez e me maravilhei com o Edifício Martinelli, o mais alto da América do Sul.

O primeiro voo a gente nunca esquece

Mas a viagem que mais me emocionou foi quando fomos a Londrina em um DC-3 da Real Aerovias Nacional – avião igual ao que aparece no filme Indiana Jones e o Templo da Perdição, quando cai sobre as montanhas do Nepal. Assim que subi a escadinha, achei meu assento e, com rapidez, prendi o cinto de segurança. Meu pai não se conteve e contou para todos, por semanas, que seu filho, mal se sentando no avião, já sabia usar o cinto. Ao lado da janela, vi a inscrição na asa: "não pise" – e fiquei imaginando por que alguém pisaria na asa de um avião.

No ar, eu me maravilhava ao observar as matas e os rios serpenteando a verdejante paisagem, hoje um vasto campo de plantações de soja e milho. Ao chegar a Londrina, fomos do “campo da aviação” – como eram chamados os aeroportos na época – até o centro da cidade em uma charrete. O trote do cavalo, combinado ao ruído do cincerro, ainda ressoa em minha memória. Ao final de seus trabalhos, voltamos à tarde para Jacarezinho. Voar em um DC-3 foi um dos maiores presentes que um menino de sete anos poderia receber do pai.


Como chamar um táxi em pleno voo e sem celular

Em Jacarezinho, no norte do Paraná, como em toda cidade pequena, os táxis ficavam na praça central. Quando um voo da Real Aerovias chegava, o piloto, para indicar quantos táxis os passageiros iriam necessitar, sobrevoava a praça e, com o movimento das asas, sinalizava quantos carros seriam necessários. O tempo do pouso e do deslocamento dos táxis era precisamente sincronizado.

Quando meus filhos cresceram, convidei-os diversas vezes, com insistência, para me acompanharem em algumas das centenas de viagens que fiz pelo Brasil. Nada feito – tinham outras prioridades. Perderam eles, perdi eu, momentos de convivência íntima, mas o que fazer? Os tempos eram outros.

 


Eloi Zanetti – 76 anos – mais de 50 anos de experiência como consultor em marketing, comunicação corporativa, criatividade, estratégias de vendas e escritor. Diretor de comunicação do Banco Bamerindus e de marketing de O Boticário. Idealizou a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. Criou a Escola de Criatividade de Curitiba e a Casa do Contador de Histórias. Conselheiro de diversas ONGs ambientais: SPVS, Universidade Livre do Meio Ambiente, TNC – The Nature Conservancy. Publicitário premiado, trabalhou em jornais, rádios, TVs, estúdios de produção, direção de arte, filmes publicitários e documentários. Tem artigos e livros publicados sobre marketing, comunicação, criatividade e vendas em jornais, revistas e portais especializados. Escreve livros sob encomenda para empresas e terceiros. Autor de livros sobre marketing, comunicação, vendas, crônicas e infantis. 

Contato: 041 9 9698-7187   Email: [email protected]


SUMÁRIO

A Travessia do Jahu
Camarão Via Aérea
Asas Rotativas: O Helicóptero
O Paraquedista «Voluntário»
Rosemari dos Santos
Aviação Naval
Plastimodelismo
Nas Asas da Real
Assento Ejetor
Ada Rogato 
Samuel Langley
Dia do Aviador: Cindacta II