29/10/2024 | AERO em Revista
Aviação Naval: As Asas da Marinha
A aviação naval, uma vertente fundamental das operações militares, integra aeronaves como aviões e helicópteros às forças navais para o controle e proteção dos oceanos. Ela desempenha papéis fundamentais em defesa, ataque, vigilância e salvamento.
A história da aviação naval remonta ao início do século XX, quando a necessidade de complementar as operações marítimas com o poder aéreo foi percebida por diversas nações. O marco inicial foi em 1910, com Eugene Ely decolando de um navio, e em 1911 ele realizou o primeiro pouso em um porta-aviões.
Durante a Primeira Guerra Mundial, aeronaves foram usadas para reconhecimento e ataques a submarinos. Já na Segunda Guerra Mundial, a aviação naval se consolidou como uma força dominante, especialmente nas batalhas com porta-aviões, como a Batalha de Midway (1942), que demonstrou a importância do poder aéreo. Nas décadas seguintes, a evolução dos porta-aviões e a integração de helicópteros ampliaram ainda mais as capacidades da aviação naval.
Funções da Aviação Naval
A aviação naval exerce um papel multifacetado, cobrindo áreas decisivas como:
1. Defesa e Ataque: Aeronaves navais, como caças e bombardeiros em porta-aviões, realizam ataques precisos e protegem frotas de ameaças aéreas e navais, utilizando mísseis, torpedos e bombas guiadas.
2. Guerra Antissubmarino (ASW): Helicópteros e aviões de patrulha equipados com sonar e torpedos detectam e destroem submarinos inimigos, protegendo rotas comerciais e navios de guerra.
3. Vigilância e Reconhecimento: Aeronaves navais patrulham oceanos usando radares e sensores, monitorando atividades inimigas e ilegais, como pirataria.
4. Busca e Salvamento (SAR): Helicópteros são usados em missões de resgate, alcançando áreas de difícil acesso para salvar tripulações em emergência.
5. Apoio Logístico: Aviões de transporte e helicópteros fornecem suporte a navios e bases distantes, permitindo operações prolongadas em regiões isoladas.
A Aviação Naval no Brasil
No Brasil, a aviação naval tem uma longa história, com a Marinha sendo pioneira na América Latina. A criação do primeiro núcleo de aviação naval ocorreu em 1916, com o foco inicial em hidroaviões para patrulhas costeiras. Ao longo das décadas, a aviação naval brasileira evoluiu, incorporando novas aeronaves e expandindo suas capacidades operacionais.
A história da aviação naval no Brasil é um verdadeiro retrato de pioneirismo, adaptação e determinação. Ao longo de seus mais de 100 anos, esse braço da Marinha do Brasil foi fundamental na defesa dos mares, na exploração de novas rotas aéreas e no desenvolvimento tecnológico militar. Vamos viajar por essa fascinante trajetória e entender as diferentes fases que moldaram a aviação naval brasileira.
À direita: Foto de Jorge Kfuri. Visita do Presidente Wenceslau Braz e Santos Dumont à Escola de Aviação Naval na Ilha das Enxadas, 1918. Rio de Janeiro, RJ / Acervo DPHDM. Ministro da Marinha, o almirante Alexandrino de Alencar (1848 – 1926), que participou da Guerra do Paraguai e da Revolta da Armada, e que também foi ministro da Marinha dos presidentes Affonso Pena (1847 – 1909), Nilo Peçanha (1867 – 1924), Hermes da Fonseca (1855 – 1923), e Arthur Bernardes (1875 – 1955).
Primeira Fase: O Surgimento dos Sonhos Alados
Em 1911, inspirada pelos avanços de Alberto Santos Dumont, o “Pai da Aviação”, a Marinha do Brasil tomou uma decisão pioneira: enviou o Tenente Jorge Henrique Möller à França para se qualificar como piloto. Ele foi o primeiro militar brasileiro a receber um "brevet", o que marca o início da história da aviação naval no Brasil. Cinco anos depois, em 23 de agosto de 1916, a Marinha deu mais um passo ousado ao criar a Escola de Aviação Naval, a primeira escola militar de aviação do país. Esse foi um marco significativo, consolidando a aviação como parte essencial da defesa nacional.
Durante essa fase inicial, a Aviação Naval não só desbravou as rotas aéreas pelo extenso litoral brasileiro, como também desempenhou um papel importante durante a Primeira Guerra Mundial. Os aviadores navais brasileiros participaram de operações de patrulha e proteção da neutralidade nacional, além de integrarem o 10º Grupo de Operações de Guerra da Royal Air Force. Foi um período de inovação que incluiu a criação do Correio Aéreo Naval, e até o primeiro voo de um presidente brasileiro em uma aeronave militar.
Segunda Fase: Novos Desafios e a Era Embarcada
Após um período de inatividade, a Aviação Naval renasceu em 1952 com a recriação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM). Esse foi um momento importante para a Marinha do Brasil, pois o foco agora era desenvolver e integrar aeronaves embarcadas. A ideia de operar aviões diretamente de navios estava começando a se firmar, e isso exigia uma coordenação estreita entre a Marinha e o Ministério da Aeronáutica.
A partir de 1954, começaram os estudos para a construção de uma nova base para a aviação naval, culminando na escolha da cidade de São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro. Esse período trouxe a chegada do NAeL Minas Gerais, o primeiro porta-aviões brasileiro, que atracou no Rio de Janeiro em 1961. No entanto, também foi uma fase de desafios políticos, como o Decreto Castelo Branco de 1965, que limitava a Marinha a operar apenas helicópteros. Mesmo assim, a Aviação Naval se manteve firme e seguiu inovando.
Terceira Fase: O Domínio das Operações Embarcadas
Com o foco exclusivamente em helicópteros a partir de 1965, a terceira fase da Aviação Naval foi marcada pelo crescimento operacional e pelo domínio das operações embarcadas. Nesse período, a Marinha do Brasil se tornou internacionalmente reconhecida por sua habilidade de operar helicópteros a partir de navios, como o NAeL Minas Gerais e outras embarcações com pequenas plataformas de pouso.
Esse avanço representou um salto significativo para o Brasil, pois consolidou sua capacidade de operar aeronaves no mar, o que era uma habilidade dominada por poucas nações na época. O sucesso dessas operações rendeu à Marinha um reconhecimento internacional, destacando-se pela sua excelência em cenários navais.
Quarta Fase: O Sonho das Aeronaves de Asa Fixa
O grande desafio da quarta fase foi o retorno ao uso de aeronaves de asa fixa. Embora os helicópteros fossem eficazes, muitos aviadores navais sonhavam em retomar a operação de aviões de alto desempenho a partir de porta-aviões. Em 1998, esse sonho tornou-se realidade com a compra de 23 aeronaves A-4 Skyhawk, aviões de combate de alta performance, capazes de decolar e pousar em navios.
Esse passo colocou o Brasil entre as grandes potências navais do mundo, já que a operação de aviões de asa fixa a partir de navios é uma capacidade dominada por poucas marinhas. A partir de então, pilotos brasileiros passaram a receber treinamentos no exterior, e a Aviação Naval do Brasil atingiu um novo nível de profissionalismo e capacidade tecnológica.
A história da Aviação Naval no Brasil é uma narrativa de perseverança e inovação. Desde os primeiros voos em aviões rústicos no início do século XX até a operação de aeronaves modernas em porta-aviões, a trajetória da aviação naval brasileira demonstra o compromisso contínuo com a defesa e o desenvolvimento tecnológico. Hoje, a Aviação Naval continua sendo uma força essencial para a proteção da Amazônia Azul e para a projeção do poder marítimo do Brasil no Atlântico Sul.