28/11/2025 | CULTURA em Revista

Carlos Eugênio Carneiro de Melo . Um Leão da Cultura

Carlos Eugênio Carneiro de Melo nasceu em Castro em 13 de dezembro de 1944. Seu pai era natural de Jaguariaíva, município fundado por Luciano Carneiro Lobo, parente da família. Sua mãe era de Castro e pertencente a uma família com propriedades rurais que mais tarde dariam origem ao município de Telêmaco Borba. Carlos Eugênio teve uma infância simples ao lado de sua irmã mais velha, Regina. Viveu em Castro até os seis anos, quando seu pai, comerciante, decidiu buscar novas oportunidades em Londrina.

Primeiros Anos em Londrina

Em Londrina, o pai de Carlos iniciou atividades ligadas a uma serraria e posteriormente passou a comercializar a semente de tungue, oleaginosa associada ao cultivo de café por oferecer proteção contra geadas. Também atuou como representante de tratores Massey Ferguson. Nesse ambiente de mudança e esforço, Carlos realizou o primário, o ginásio e o segundo grau em Londrina. No terceiro ano mudou-se para São Paulo com o objetivo de se preparar melhor para o vestibular.

Formação em São Paulo e Vida Universitária

Em São Paulo estudou no Ginásio de Aplicação da USP, uma instituição de alto nível. Apesar de sempre ter sido excelente aluno, especialmente nas áreas de exatas, sentiu inicialmente a pressão do ensino mais exigente. Morou em uma pensão e dedicou-se intensamente aos estudos. Foi aprovado na Escola Politécnica da USP na primeira tentativa. Após os dois anos iniciais de formação básica optou pela engenharia eletrônica. Uma de suas atividades mais constantes nesse período era a produção de apostilas em mimeógrafo para auxiliar os estudos.

Durante o curso morou no Conjunto Residencial da USP, conhecido como CRUSP, que abrigava estudantes desde 1964. No quinto ano, em 1968, enfrentou o período turbulento que marcou a criação do AI-5. Entre seus colegas de convivência estavam personalidades como Fernando Henrique Cardoso e Clóvis de Barros Carvalho, o último colega direto de sua turma. Apesar das dificuldades, especialmente com a disciplina de Economia, destacou-se em Estatística, que acabou compensando seu desempenho na outra área.

No final de 1968 o CRUSP foi ocupado pelo Exército e Carlos Eugênio precisou deixar o alojamento, passando a viver novamente em uma pensão, enfrentando fortes limitações financeiras. Nesse mesmo período recebeu a notícia de sua contratação pelo CNAE-Comissão Nacional de Atividades Espaciais, o que lhe garantiu estabilidade e perspectiva profissional.

Primeiros Trabalhos no CNAE e Início da Carreira

Em 1969 o CNAE era um dos centros mais importantes do país em pesquisa espacial e computação, conhecido pelo Projeto Saci, primeiro satélite brasileiro experimental. Carlos Eugênio foi contratado como recém-formado junto a outros dois engenheiros, com a ideia de preparar futuros mestres e doutores que atuariam nos Estados Unidos. Seu primeiro trabalho consistiu na investigação de uma anomalia eletromagnética registrada em São José dos Campos, tema que se transformaria em seu projeto de mestrado.

Nessa época teve contato intenso com computação, área que ainda dava seus primeiros passos no Brasil. O CNAE possuía um computador B-500 da Burroughs, no qual Carlos escrevia programas dedicados ao estudo de fenômenos ligados ao magnetismo terrestre. Com apenas três meses de salário casou-se com sua namorada de Londrina, professora Anuncia, com quem manteve por vários anos amorosas correspondências trocadas por carta.

Telepar e Contribuições às Telecomunicações do Paraná

Em março de 1970 decidiu deixar o mestrado e mudou-se para Curitiba para trabalhar no departamento de transmissão da Telepar. Atuou inicialmente no projeto de rotas de transmissão por rádio em UHF e micro-ondas de longa distância. Durante essa fase reencontrou um colega de trabalho, Leôncio Resende, que mais tarde se tornaria presidente da Telepar e que surpreendentemente possuía uma apostila escrita por Carlos ainda no tempo de universidade.

Passou a chefiar o setor de implantação, o que lhe permitiu conhecer grande parte das cidades do Paraná e participar de momentos marcantes na história das comunicações do estado. Em seguida assumiu responsabilidades no departamento de transmissão, e depois a assessoria técnica de  dois grandes projetos conhecidos como Curitiba e o Básico, garantindo o sincronismo entre equipes e áreas técnicas distintas.

Experiência Internacional e Inovação Tecnológica

Surgiu a oportunidade de participar de um programa patrocinado pelo governo americano. Carlos Eugênio prestou o concurso e foi aprovado para o programa Hubert Humphrey Fellowship, passando um ano em Boston entre 1983 e 1984. Frequentou cursos na Boston University, no MIT e em Harvard. Nesta última instituição encontrou um brasileiro que se tornaria figura pública nacional.

Nessa fase aprofundou-se em computação e em linguagens de programação que ganhavam relevância no mundo tecnológico, como Turbo Pascal, a principal linguagem da época. Desenvolveu o primeiro programa utilizado pela Telepar para elaboração de projetos de engenharia. Trabalhou proximamente a vários presidentes da empresa, como Fernando Xavier, Gilberto Garbi e especialmente Leôncio Resende.

Com o crescimento da informática aplicada à engenharia, Carlos tornou-se um dos principais agentes de modernização tecnológica da Telepar. A Ericsson possuía convênio com a empresa e, por meio desse acordo, Carlos viajou a Oslo, na Noruega, onde obteve o programa de planejamento de frequência. Essa aquisição representou um marco fundamental para o avanço das telecomunicações, influenciando diretamente o desenvolvimento do setor no Paraná.

Atuação na Diretoria de Operações

Após acumular vasta experiência técnica e de coordenação, Carlos Eugênio assumiu a diretoria de operações da Telepar, onde passou a atuar diretamente com as superintendências regionais. Nessa posição respondia tanto pela área técnica quanto pelo atendimento aos clientes. Foi nesse período que implantou a ouvidoria em todas as superintendências, iniciativa pioneira dentro da empresa e fundamental para qualificar a comunicação com os usuários.

Outro marco importante foi a criação da lista telefônica informatizada da Telepar, resultado de seu domínio em computação e de sua visão de futuro para a integração entre tecnologia e serviços públicos. O trabalho desenvolvido por ele e por suas equipes contribuiu para que a Telepar fosse reconhecida pela Telebras com o prêmio de empresa nota DEZ em todos os quesitos avaliados, distinção rara e extremamente valorizada no setor.

Diretoria de Recursos Humanos e Retorno ao Atendimento Estratégico

Após mudanças na presidência e nas diretorias, Carlos Eugênio foi convidado a assumir a diretoria de Recursos Humanos. Nesse cargo passou a cuidar de treinamentos técnicos e administrativos, além da gestão da biblioteca corporativa, que desempenhava papel essencial na atualização profissional dos colaboradores.

Em seguida retornou à área de atendimento a grandes clientes, atuando junto a instituições estratégicas como o CINDACTA II e outros órgãos de grande porte. Foi nessa fase que a internet começava a surgir no Brasil de forma estruturada e em 1993 foi criado o departamento de clientes dedicado à nova tecnologia, área na qual Carlos novamente exerceu papel pioneiro.

Experiência na Telebras e Processo de Privatização

A experiência acumulada na Telepar o levou a Brasília, onde passou a atuar na assessoria da Diretoria de Serviços da Telebras. Ao longo de três anos colaborou diretamente com o programa de privatização do sistema de telecomunicações brasileiro, processo concluído em 1998. Sua participação envolveu análises técnicas, suporte especializado e articulação entre diferentes áreas do sistema Telebras.

Após esse ciclo solicitou licença médica para tratamento de um câncer, período de seis meses que antecedeu sua aposentadoria.

Participação no Lions Club e Inovações no Movimento Leonístico

Paralelamente à carreira profissional, Carlos Eugênio desenvolveu intensa atuação comunitária por meio do Lions Clube Curitiba Batel. Ainda durante seu período na Telepar participou da primeira irmanação entre clubes brasileiros e portugueses, envolvendo o Lions de Curitiba e o clube de Faro de Portugal. Dessa parceria nasceu a primeira reunião virtual entre clubes, realizada com participantes em Brasília, Curitiba e Faro, um marco histórico para o movimento leonístico internacional.

Foi um dos fundadores do Lionet, grupo internacional em língua inglesa que reunia leões de diversos países e que deu origem ao círculo cibernético leonístico, inicialmente em espanhol e depois em português. Entre os participantes deste último estavam Cláudio Rigo, Carlos Eugênio, Tosihiro Ida e outros líderes importantes.

Em 2009 e 2010 participou das comemorações do jubileu de ouro do Lions Curitiba Batel, período em que exerceu a presidência do clube. Nessa ocasião alcançou um feito expressivo, reunindo cinquenta associados ativos. Destacou-se também por ações comunitárias como o apoio à escola de música da Vila Zumbi dos Palmares, entre diversos projetos de impacto social.

Em 2006, ano em que Tosihiro assumiu como governador, Carlos Eugênio foi convidado a ocupar o cargo de secretário do distrito. Posteriormente foi cogitado para assumir a governadoria, mas recusou para evitar longos períodos de viagem e manter maior proximidade com a família.

Mesmo após encerrar funções administrativas formais continua sendo referência em informática dentro do Lions e segue responsável por diversos sites e plataformas digitais da organização.

Legado

A trajetória de Carlos Eugênio Carneiro de Melo integra formação acadêmica sólida, pioneirismo em computação aplicada às telecomunicações e contribuição decisiva para o desenvolvimento da infraestrutura de comunicação do Paraná. Sua atuação técnica, somada à capacidade de integrar novas tecnologias ao cotidiano da engenharia, consolidou seu papel como um dos nomes mais importantes na história das telecomunicações paranaenses.