20/11/2025 | CULTURA em Revista

Tosihiro Ida nasceu do encontro entre duas trajetórias de coragem. Seus pais, japoneses oriundos de Assaikawa, em Hokkaido, deixaram a terra natal em 1938 para desbravar uma região ainda pouco habitada no norte do Paraná. O lugar que escolheram para recomeçar carregava um nome auspicioso: Assaí, que significa “Sol da Manhã”. Carregavam consigo o espírito pioneiro e a esperança de construir uma vida digna em meio às matas e aos desafios de um país distante.

A região começava a ser organizada pela Sociedade Colonizadora do Brasil Ltda. (BRATAC), que havia adquirido cerca de 3.600 alqueires de terra. Esse imenso território foi dividido em seções batizadas com nomes de árvores – Jandaia, Amoreira, Bálsamo, Figueira, Peroba, Cedro e outras – formando um mosaico humano e cultural onde cada núcleo se desenvolvia com esforço coletivo. A família Ida estabeleceu suas raízes na seção Caviúna, onde o pai de Tosihiro logo se tornaria figura central: pioneiro nas lavouras, liderança natural entre os colonos e símbolo do trabalho árduo que marcaria toda a trajetória da família.

A primeira casa erguida naquela região – feita de tábuas de madeira e coberta com telhas de barro – foi construída por ele. Enquanto muitos ainda utilizavam cascas de palmiteiro para cobrir suas moradias, a casa dos Ida representava não apenas abrigo, mas um sinal de determinação e esperança. Ali, entre plantações de café, milho e diversas outras culturas, cresceram os sete filhos do casal.

A comunidade dava enorme valor à educação. No centro das seções, vizinhos se reuniam em mutirões para erguer as escolas improvisadas. Uma diretoria local organizava a vida escolar e buscava os mais capacitados para lecionar. Professores de Assaí vinham especialmente para aplicar exames e avaliar o nível das crianças – um esforço coletivo que moldaria profundamente a formação de Tosihiro.

Ele estudava pela manhã as disciplinas regulares e, à tarde, dedicava-se ao aprendizado da língua japonesa, preservando a herança cultural dos imigrantes. Concluiu o terceiro ano do primário na escola da comunidade e, para cursar o quarto ano, precisou mudar-se para Assaí. Ali, morou na igreja – construída também com a ajuda de seu pai – e encarou uma rotina que poucas crianças teriam suportado: percorria 36 quilômetros entre sua casa e a escola, indo na segunda-feira e voltando no sábado, mantendo firme o propósito de estudar.

No dia 2 de setembro de 1952, iniciou uma nova etapa: mudou-se para Curitiba para cursar o ginásio no Colégio Iguaçu. Trabalhava durante o dia na Atalaia Companhia de Seguros e estudava à noite, equilibrando responsabilidades com disciplina e foco.

Entre 1957 e 1966, serviu ao Exército no Batalhão de Comunicações, no bairro Portão, onde alcançou o posto de sargento. A vivência castrense lhe ensinou rigor, organização e o senso de serviço – características que marcariam sua vida futura no voluntariado.

Em 1964, formou-se em Economia pela Universidade Federal do Paraná. Dois anos depois, foi aprovado em primeiro lugar no concorrido concurso do Banestado para candidatos de nível superior, demonstrando brilhantismo e dedicação. Pelo resto da vida, manteria gratidão especial à criação, em 1951, da Caixa Beneficente dos Funcionários do Banestado – fundo de pensão complementar que, segundo ele, foi essencial para a segurança e estabilidade dos servidores, e ao qual contribui até hoje.

A trajetória no Lions Clube começou em 24 de agosto de 1989, levado pelo médico de Arapongas, Dr. Toitiro Nita. Tosihiro rapidamente se destacou pela dedicação e espírito de liderança: tornou-se tesoureiro em 1991 e presidente do clube em 1992. Nos anos leoninos de 2006/2007, Tosihiro Ida foi governador do distrito LD-1.

Seu mandato marcou a história do movimento leonístico brasileiro. Em 15 de outubro de 1992, ele firmou o primeiro acordo de irmanação com um clube japonês, o Himeji Rojyo Lions Club, Japão. Desde então, os laços entre os clubes se mantêm vivos, e Tosihiro, com senso de dever e profundo respeito às suas origens, representa seu clube nas reuniões que continuam sendo realizadas no Japão.

A vida pessoal também trouxe tristezas, alegrias e desafios. Em 2019, perdeu a esposa – nascida na província de Gifu, Japão – com quem construiu uma família de três filhos, um deles hoje residente na Austrália. A partida dela deixou um vazio profundo, mas jamais tirou de Tosihiro a vontade de servir e honrar seu legado.

Atualmente, mesmo após décadas de trabalho, estudo e dedicação comunitária, Tosihiro Ida segue ativo e influente no Lions. Atua como representante e consultor na criação de novos clubes pelo Brasil, levando consigo a experiência de uma vida marcada pela disciplina japonesa, pela força da imigração, pelo amor à comunidade e pelo compromisso permanente com o bem.

Sua história é, ao mesmo tempo, a de um homem e a de todo um povo que acreditou na luz do “Sol da Manhã” – e que, graças a essa fé, transformou o interior do Paraná, sua própria vida e a de muitos outros ao longo do caminho.

Por Franco Rovedo
18/11/25

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