08/03/2025 | Brasil a Calicute

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Diário de Bordo - 8 de março de 2025

Surgiu uma oportunidade que não podíamos deixar passar. Um piloto da TAM, que estava em Joanesburgo com a esposa e o filho, havia contratado um guia com uma van para levá-los até uma reserva de leões e elefantes, localizada a cerca de duas horas da cidade. Se nos juntássemos ao passeio, poderíamos dividir os custos da van, o que tornaria tudo mais acessível para todos.

Como sairíamos bem cedo no dia seguinte, decidimos descansar logo naquela noite. Foi então que descobrimos um dos desafios da vida na África do Sul: duas vezes por semana, há cortes no fornecimento de energia elétrica devido ao constante racionamento. A escassez de rios com fluxo suficiente para a construção de hidrelétricas inviabiliza esse tipo de geração de energia, e o país depende principalmente de usinas termoelétricas a carvão. Com o rápido crescimento urbano, o sistema energético não tem dado conta da demanda e está à beira do colapso.

Sem alternativas para sair naquele momento, jantamos no hotel mesmo e fomos dormir, nos preparando para a aventura do dia seguinte.

Às 6h em ponto, a van chegou ao hotel para nos buscar. Quem conduzia era Joel, um moçambicano simpático e experiente, que há anos trabalhava como guia em Joanesburgo. Falava seis idiomas, incluindo português, o que o tornava presença frequente nos passeios com tripulações da TAM. Logo depois, seguimos para outro hotel, onde uma família nos aguardava. Eles entraram na van e nos cumprimentaram em inglês.

Durante os primeiros minutos, reinou um silêncio típico entre desconhecidos. Mas bastou alguém arriscar uma frase em português para que o clima mudasse. Um alívio coletivo tomou conta do grupo — todos falávamos a mesma língua. A partir dali, Joel pôde explicar tudo sobre a África do Sul com riqueza de detalhes, e todos compreendiam. Ulisses, o piloto da família, revelou conhecer o Quinho, filho do Frank, outro comandante da TAM — o mundo é realmente pequeno.

No caminho, passamos por lugares incríveis. Um deles foi o Montecasino, um complexo de entretenimento localizado em Fourways. Inspirado na arquitetura italiana, imita uma vila toscana com ruas de paralelepípedos e até um céu artificial. Repleto de teatros, cassinos, hotéis, restaurantes e lojas, o lugar é um dos pontos mais charmosos da cidade.

Alguns quilômetros adiante, vimos balões de ar quente no horizonte. Joel comentou que, em outra oportunidade, poderia nos levar até lá. Mas naquele dia, o plano era outro: leões e elefantes nos aguardavam.

Chegamos ao Ukutula Lion Park, nos arredores de Pretória. Mais do que um parque, Ukutula é um centro de conservação e pesquisa genética de grandes felinos, especialmente leões. Lá, fizemos caminhadas ao lado desses animais majestosos, conhecemos filhotes e observamos de perto tigres, caracais, leopardos, leões brancos e até as temidas hienas. Tudo em áreas amplas, cercadas, onde os animais em reabilitação são estudados.

Visitamos também o laboratório genético, que realiza um trabalho vital na preservação de espécies ameaçadas.

Depois da experiência inesquecível com os leões, paramos para almoçar antes que a fome batesse — neles e em nós. Fomos a um restaurante à beira da estrada chamado Chameleon Village, onde compartilhamos uma refeição deliciosa e boas conversas com nossos novos amigos.

Por fim, Joel nos levou aos arredores de Hartbeespoort, onde ficam dois santuários únicos: o Elephant Sanctuary e o Bushbaby & Monkey Sanctuary. No primeiro, é possível interagir de forma respeitosa com elefantes, aprendendo sobre seu comportamento e cuidados. No segundo, macacos vivem em liberdade em meio à vegetação, em um ambiente que imita seu habitat natural. 

Voltamos a Joanesburgo no final da tarde. Deixamos a família no hotel e fomos descansar também. Foram horas de caminhada a que não estávamos mais acostumados.

Quase chegando em nosso hotel, uma curiosidade: o que está fazendo um caça Mirage FIII na cobertura de um prédio?