11/03/2025 | Brasil a Calicute

Reflexões sobre a Viagem

Índice . Diário de Bordo . África do Sul 

Hora de voltar para casa. As malas estão prontas, os corpos cansados, e o coração dividido entre o alívio do retorno e a saudade antecipada do que foi vivido. Como disse o Frank, é impossível voltar de uma viagem como essa e ainda ser o mesmo. Algo muda — às vezes sutil como o vento que muda de direção, às vezes profundo como uma raiz que encontra novo solo. O que vimos, ouvimos e sentimos não se apaga. O mundo se abre, e a fome de conhecê-lo só cresce.

Viajamos longe, mas também para dentro. Conhecemos o berço da civilização, pisamos em lugares que antes só existiam em livros de história e sonhos de criança. Conhecemos uma cultura diferente — mas tão parecida com a nossa. Essa dualidade é o que mais impressiona: somos diferentes nos detalhes, mas idênticos na essência. Ao olhar um crânio humano lembro que aquele nosso começo também é o nosso fim. Europeus e nativos convivem, brigam, dançam juntos, discutem o passado. Como em todo lugar, às vezes o vilão é o mocinho da outra história. Às vezes, todos erram. E talvez isso seja a parte mais humana: a complexidade, a contradição, a busca constante por sentido. 

No fim, o que vimos foi a humanidade em suas múltiplas formas. Homo sapiens. A espécie que pensa, que cria, que destrói, que ama, que teme o futuro e tenta compreendê-lo observando o passado. Uma espécie obcecada em deixar marcas, em perpetuar seus genes, suas histórias, suas ideias. Não importa a cor da pele, a língua, a altura ou o ritmo da música que embala as noites. Todos estamos tentando a mesma coisa: viver. Só isso. Viver com alguma dignidade, algum afeto, alguma paz.

Talvez viajar seja isso: colocar nossa existência em perspectiva. Entender que não somos o centro de nada, mas ainda assim fazemos parte de tudo. Ao ouvir as histórias dos outros, algo dentro de nós se rearranja. Passamos a carregar essas histórias também. E ao contá-las, voltamos a vivê-las um pouco. Participamos das aventuras dos outros e, por um instante, as tornamos nossas.

Agora é hora de voltar. Mas voltamos diferentes. Voltamos maiores, mais abertos, mais conscientes. E com uma certeza tranquila: o mundo é vasto demais para ser visto com olhos fechados.

Franco Rovedo

Contador de Histórias