20/10/2022 | AERO em Revista
Aeromodelismo RC . Ricardo Zanotto
Desde os primórdios da aviação, a humanidade nutre um fascínio pelo voo. Esse desejo de conquistar os céus não se limita apenas aos grandes aviões comerciais ou às máquinas militares poderosas. Para muitos entusiastas, a paixão pela aviação se manifesta em uma escala reduzida, por meio do aeromodelismo radiocontrolado.
O aeromodelismo, como conhecemos hoje, tem suas raízes nas experiências dos pioneiros da aviação, como Dumont, Wright e outros que construíram modelos em miniatura de seus aviões para testar e aprimorar suas invenções. Com o passar dos anos e avanços tecnológicos, o aeromodelismo evoluiu de simples modelos de papelão e madeira para sofisticadas máquinas voadoras controladas remotamente.
O coração de um aeromodelo radiocontrolado é o sistema de controle. Um transmissor de rádio nas mãos do piloto se comunica com um receptor instalado no modelo, permitindo um controle preciso sobre seus movimentos no ar. As possibilidades são vastas: desde simples planadores que deslizam suavemente pelas correntes de ar até jatos de alta performance capazes de realizar acrobacias incríveis.
Ao adentrar no mundo do aeromodelismo, o entusiasta se depara com uma ampla variedade de modelos e categorias. Aviões de asa fixa, helicópteros, drones e até mesmo modelos em escala, que reproduzem fielmente os aviões reais em miniatura, são apenas algumas das opções disponíveis. Cada tipo de aeromodelo oferece desafios e experiências únicas, permitindo que os pilotos explorem diferentes aspectos da aviação em miniatura.
Além da diversão e do fascínio de pilotar máquinas voadoras, o aeromodelismo oferece uma série de benefícios. A construção e manutenção dos modelos estimulam habilidades técnicas em eletrônica, mecânica e aerodinâmica. O controle preciso do aeromodelo requer coordenação motora e concentração, contribuindo para o desenvolvimento dessas habilidades.
O aeromodelismo também é uma atividade social. Clubes e eventos dedicados reúnem entusiastas de todas as idades, proporcionando um ambiente para compartilhar conhecimentos, trocar experiências e fazer novas amizades. Essa comunidade vibrante e engajada torna a jornada pelo céu em miniatura ainda mais enriquecedora.
Conversamos com Ricardo Zanotto, instrutor do Clube Aerosampa, em São Paulo.
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Quando Ricardo Zanotto vivia em Curitiba, sua infância e adolescência foram marcadas pela frequência no Aeroclube do Bacacheri. Sua paixão pela aviação cresceu ao observar os eventos no Aeroclube, especialmente as acrobacias do PT-19, levando-o a fazer um cursinho e se candidatar à AFA (Academia da Força Aérea de Pirassununga), onde foi aprovado. No entanto, uma desilusão surgiu durante o exame médico, quando precisou usar óculos por um ano. Mesmo após ser aprovado na prova e se apresentar, um sargento o reprovou por ter ultrapassado a data limite por um dia.
Apesar desses contratempos, Ricardo seguiu adiante. Ele costumava observar os aeromodelos rádio controlados após a torre dos bombeiros na estrada que levava a Piraquara, mas naquela época, o hobby era financeiramente inacessível. Sua jornada no aeromodelismo começou após sua mudança para São Paulo em 1995. Uma noite, assistindo a um programa de TV, ficou sabendo de uma loja de aeromodelos que estava anunciando vendas.
Zanotto pesquisou sobre locais onde poderia praticar o hobby e começou a aprender com um instrutor. Inicialmente, era apenas um passatempo, mas sua habilidade e interesse crescentes chamaram a atenção. Logo, foi convidado para dar aulas de voo para iniciantes, já que na pista não havia ninguém apto a ensinar. Ele começou com algumas aulas para iniciantes, mas o negócio cresceu tão rapidamente que ele precisou montar uma estrutura completa de aeromodelos e rádios para oferecer aulas.
Com o tempo, Ricardo se tornou o único instrutor profissional na área do aeromodelismo em que os alunos não precisavam levar nada, pois a escola fornecia todos os equipamentos necessários, evitando compras equivocadas. Isso o levou a ministrar aulas em tempo integral, incluindo fins de semana e, posteriormente, ao longo da semana. Sua escola ganhou destaque em várias reportagens, incluindo na revista 4 Rodas e em programas de TV, consolidando assim sua carreira no aeromodelismo, que já dura 25 anos como profissão.
Zanotto sempre manteve sua admiração pelos aviões do aeroclube que decolavam em direção ao Jardim Social, bairro próximo ao Bacacheri. Trabalhando por muitos anos na imobiliária Futura e proprietário de uma revenda de automóveis, ele nunca deixou de lado sua paixão pela aviação, sempre com a esperança de um dia poder se envolver em alguma atividade relacionada a ela. Na década de 90, decidiu empreender em São Paulo, onde abriu uma distribuidora de água mineral.
Um dia, enquanto caminhava pelas calçadas do Brás, deparou-se com uma caixa na vitrine de uma loja contendo um kit de aeromodelo controlado por rádio. Aquilo instantaneamente o transportou de volta ao Aeroclube do Paraná e às acrobacias do PP-GUF.
Apesar de não ter experiência nesse campo, decidiu se aventurar e comprou o aeromodelo do Fairchild PT-19 "Cornell" na escala 1:5. A montagem desse modelo da DYNAFLITE era complexa e foi confiada a um amigo profissional. O aeromodelo tem uma envergadura de 2,22 metros e comprimento de 1,80 metros e usava um motor Saito 150b, 4 tempos, de 25cc.
Inicialmente, a intenção era pintar o modelo exatamente como o PP-GUF do Aeroclube, mas devido a um mal-entendido na comunicação, o montador o pintou nas cores da Marinha dos EUA, amarelo com a boca de tubarão, ao invés do azul e branco do Aeroclube do Paraná. Apesar de ser seu primeiro aeromodelo, já foi montado e modificado com vários detalhes mais sofisticados, incluindo flapes, trem de pouso Roberts com amortecedores e fendas de manobra nas pontas das asas.
As primeiras lições com o instrutor Daniel no cenário conhecido como "Terrão de Guarulhos" destacaram imediatamente sua aptidão e talento como habilidoso aeromodelista. Ao longo dos anos, Zanotto se profissionalizou na área, passando a oferecer treinamento de voo utilizando uma variedade de aeromodelos que ele mesmo adquiriu para esse propósito específico. O PT-19 sempre ocupou um lugar especial em seu coração, não apenas por sua preferência pessoal, mas também por razões sentimentais.
No entanto, em 1997, devido a circunstâncias imprevistas, ele teve que vender seu modelo favorito e concentrar-se exclusivamente nos modelos da escola, os quais já demandavam todo o seu tempo. Apesar disso, seu empreendimento prosperou e transformou seu passatempo em uma atividade profissional lucrativa e altamente gratificante. Assim que teve a oportunidade, Zanotto adquiriu outro PT-19 da mesma marca do anterior e o pintou com as cores da Academia da Força Aérea em Pirassununga: cinza e laranja.
Recentemente, em 2023, ao navegar pelas redes sociais, ele se deparou com o anúncio de venda do mesmo aeromodelo que havia sido seu favorito 27 anos antes. Após ter passado por várias mãos, ele estava prestes a encerrar sua jornada, esquecido em uma garagem no interior de São Paulo. Apesar de estar danificado, Zanotto decidiu recuperá-lo pessoalmente, confiante de que a restauração devolveria ao pássaro sua antiga elegância dos anos 90. Por saudosismo, pintou como antigamente de amarelo com a boca de tubarão. Recentemente, já com um motor de 30cc, fez um voo em ala com o outro PT-19 da coleção satisfazendo um sonho de quase três décadas.
SUMÁRIO . AERO em Revista nº2
- Emily Yegros Ortega: A Paraguaia que Caiu do Céu
- Havan . Solidariedade ao RS
- Evento de lançamento da AERO em Revista nº1
- Starlink: A Constelação de Elon Musk
- Elon Musk: Um Gênio Bilionário
- Literatura . Perdidos em Shangri-La
- O Voo do Albatroz: Mário «Meio Quilo» Malschitsky
- The Surf Drop
- Aeromodelismo RC . Ricardo Zanotto
- Aviação do Exército: Solidariedade ao RS
- Aviation Art . Marco Pullin
- Havan . Luciano Hang no RS e outras notícias
- Miniaturas de Cockpit . Flábio Pereira
- Cinema: O Voo da Fênix