22/11/2024 | CULTURA em Revista
As Orelhas do Papel . José Carlos Duarte Pereira
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Convite
Recebi alguns ensinamentos do Mário Quintana anos depois que ele se foi. Aprendi, assim, que nem o tempo, nem a morte calam um poeta. Quem sabe, apenas a própria vida... Lá de dentro de um de seus livros, aconselhou-me ele: “Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-los de desenhos — gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas — que passarão também a fazer parte dos poemas...”.
Não creio que as crianças pequenas queiram ler estes meus textos antes que cresçam. Envelhecer é opção! Sou um pouco Quintana: “Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse que me olha e é tão mais velho do que eu?”, perguntava ele. Também eu me assusto diante de minha imagem senil, quando a vejo. Mas sei que dentro dela moram cinco meninos de doze anos e uma criança de apenas cinco. Por isso somos tão diversos: há o poeta, o músico, o sonhador, o matemático, o filósofo... Há também o que faz acontecer, mas esse tem apenas cinco anos; por isso essa família pensa muito e faz tão pouco. Sei ainda que, quando o primeiro de nós completar treze anos, morreremos todos porque fomos feitos para viver nossas vidas com os olhos e o encantamento dos primeiros tempos. Como Gonzaguinha, eu também fico com a pureza da resposta das crianças, para as quais — crianças iguais a mim — reservei os espaços que o também menino Quintana me sugeriu. Usem-nos sem parcimônia. Nada terá valido a pena se essa leitura não os remeter às próprias reflexões. Aprendam com as minhas e, especialmente, com as suas, para as quais os convido. Risquem, rabisquem à vontade e assumam a coautoria desta pequena obra.
José Carlos Duarte Pereira