15/10/2024 | AERO em Revista
Coronel Aviador Aguiar - CINDACTA II
ENTREVISTA
O Coronel Aviador Regilânio Isaías Aguiar de Melo, atual Comandante do CINDACTA II (Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), nasceu em 30 de junho de 1978, na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará. Desde cedo, mostrou uma forte conexão com o ambiente militar, inspirado por seu irmão, um paraquedista do Exército. Ao ser aprovado tanto no concurso da Força Aérea Brasileira (FAB) quanto no do Exército, optou pela FAB, buscando trilhar um caminho próprio e se diferenciar dentro de sua família.
Ao longo de sua carreira, o Coronel Aguiar acumulou uma sólida formação acadêmica e operacional. Entre seus principais cursos estão o Curso de Formação de Oficiais Aviadores, o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, além de um MBA em Gestão Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Curso de Comando e Estado-Maior. Sua trajetória é marcada por uma preparação técnica apurada, incluindo formações em Tática Aérea, Patrulha Aérea e Investigação de Acidentes Aéreos, além de diversas qualificações como instrutor e coordenador aerotático.
Com mais de 3.200 horas de voo, o Coronel Aguiar já pilotou diversas aeronaves, como o T-25, T-27, P-95A, C-95A/B/C/M, IC-95 e o C-98. Sua experiência o levou a ocupar cargos de grande responsabilidade, como Comandante da Esquadrilha de Patrulha do 1º/5º GAV e Chefe da Seção de Operações do 5º/1º GCC. Também se destacou como Comandante do 5º/1º GCC e Chefe do SERIPA II, contribuindo ativamente para a segurança e eficiência das operações aéreas no Brasil.
Além disso, o Coronel Aguiar foi agraciado com importantes condecorações ao longo de sua carreira, como a Medalha Militar de Prata, a Medalha Santos Dumont e a Medalha Sangue de Heróis, símbolos de seu comprometimento e dedicação às Forças Armadas e ao país. Já esteve designado em 10 cidades, nas 5 regiões do país.
Hoje, à frente do CINDACTA II, ele segue desempenhando um papel fundamental na integração das operações de defesa aérea e controle do tráfego aéreo, sempre com um olhar atento à segurança e à inovação no campo aeronáutico.
AeR: Coronel, conte um pouco sobre o histórico do CINDACTA II.
Coronel Aguiar: A história do CINDACTA II é marcada por um legado militar profundo, refletindo a evolução da aviação no Brasil. Na década de 1930, a área onde se encontra o centro pertencia ao Exército Brasileiro e abrigava o Quinto Regimento de Aviação, uma organização pioneira da aviação militar comandada pelo 1º Tenente José Cândido da Silva Muricy Filho. Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 1941, a instalação passou a sediar o Destacamento de Base Aérea de Curitiba, tornando-se um ponto estratégico para o desenvolvimento da aviação no país.
Ao longo dos anos, a base foi sede de várias escolas de formação da Força Aérea Brasileira, como Escola de Formação de Mecânicos, a Escola de Oficiais de Infantaria de Guarda (EOIG) e a Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica (EOEAR), que tiveram papel decisivo na formação de profissionais técnicos e militares. Essas instituições foram fundamentais para capacitar o efetivo da Aeronáutica em diversas especialidades, garantindo a qualificação necessária para as operações aéreas e técnicas.
Em 1982, com a criação do CINDACTA II, a missão da instalação mudou para a vigilância e o controle do espaço aéreo brasileiro. Pelo Decreto Nº 87.758, o centro passou a ser responsável por duas atividades principais: a defesa aérea, garantindo a soberania do espaço nacional, e o controle do tráfego aéreo civil, essencial para a segurança e eficiência das rotas comerciais.
O CINDACTA II opera com uma missão dupla, tanto no campo militar quanto no público. A defesa aérea assegura que nosso espaço esteja protegido de quaisquer ameaças, enquanto o controle de tráfego aéreo civil organiza o fluxo de aeronaves, garantindo segurança para passageiros e tripulações que sobrevoam a área de sua responsabilidade.
Esse compromisso diário de proteção e segurança é resumido no nosso lema: “Sua segurança é nossa missão.”
AeR: Nos últimos anos, a aviação passou por muitas transformações tecnológicas. Como o CINDACTA II tem se adaptado às novas tecnologias no controle de tráfego aéreo e nas operações de defesa aérea?
Coronel Aguiar: Atualmente, o CINDACTA II atende uma média de 100 mil pessoas por dia, entre passageiros e tripulantes, e conta com aproximadamente 1.600 militares, dos quais 400 são controladores de tráfego aéreo, operando em turnos de 24 horas ininterruptas. Esse esforço contínuo é essencial para manter a segurança e a eficiência das operações, mesmo diante da alta demanda.
Um dos maiores desafios que enfrentamos diariamente é a integração entre a aviação civil e militar, que compartilham o mesmo espaço aéreo. Para garantir a segurança de ambas as operações, trabalhamos em estreita colaboração com órgãos civis e militares, buscando sempre equilibrar as necessidades da aviação comercial com as exigências de defesa do nosso espaço aéreo. O controle do espaço aéreo civil e militar integrado é uma tendência da qual o Brasil é pioneiro e vários países do mundo passam a adotar.
O treinamento contínuo é essencial para o sucesso de nossas operações, e uma das instituições mais importantes nesse processo é a Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA). A CISCEA desempenha um papel fundamental na modernização e desenvolvimento do sistema de controle do espaço aéreo brasileiro, sendo responsável por planejar, coordenar e supervisionar a implementação de novas tecnologias e sistemas.
Essa comissão garante que a infraestrutura de controle aéreo esteja sempre atualizada e em sintonia com os avanços tecnológicos, o que é fundamental para a eficácia do CINDACTA II. Além disso, a CISCEA assegura que os controladores e operadores recebam o treinamento adequado para utilizar essas novas ferramentas de forma eficiente, capacitando nossos profissionais para enfrentar os desafios que surgem no dia a dia.
AeR: Falando do papel de defesa do espaço aéreo, gostaria de saber como funciona a interceptação de aeronaves e qual a base legal para seu abate?
Coronel Aguiar: A defesa do espaço aéreo brasileiro é uma das principais missões do CINDACTA II, e a interceptação de aeronaves é uma das ações essenciais para garantir a soberania nacional. O processo de interceptação ocorre quando uma aeronave, seja ela civil ou militar, entra no espaço aéreo brasileiro de forma irregular ou sem autorização, ou apresenta comportamento suspeito que possa comprometer a segurança. O objetivo inicial da interceptação é identificar a aeronave, obter informações e, se necessário, direcioná-la para um pouso seguro em local designado pelas autoridades.
O processo de interceptação segue um protocolo rigoroso, coordenado com o COMAE (Comando de Operações Aeroespaciais). Primeiro, são feitos contatos de rádio e tentativas de comunicação visual, utilizando sinais luminosos ou manobras padronizadas, para estabelecer a comunicação com a tripulação. Caso a aeronave continue sem responder ou mantenha uma conduta que possa representar uma ameaça, as Forças Aéreas podem escalar o nível de resposta, inclusive forçando-a a pousar.
A base legal para a detenção de aeronaves é regulamentada pela Lei nº 9.614, de 5 de março de 1998, e pelo Decreto nº 5.144, de 16 de julho de 2004. Essas normas preveem que, em situações extremas, onde todas as tentativas de comunicação e interceptação tenham sido esgotadas e a aeronave seja considerada uma ameaça à segurança nacional ou esteja envolvida em atividades ilícitas, como o tráfico de drogas, a detenção pode ser autorizada. No entanto, essa é sempre a última alternativa e só ocorre sob circunstâncias específicas e após ordens diretas de autoridade competente.
A detenção, portanto, é uma medida excepcional e raramente utilizada. Nosso foco está em preservar vidas e manter a segurança do espaço aéreo, utilizando interceptações como uma ferramenta de dissuasão e controle, garantindo que todas as operações ocorram conforme a lei e os padrões internacionais de segurança.
AeR: Olhando para o futuro da aviação e do controle do espaço aéreo no Brasil, quais são as principais metas e desafios que o CINDACTA II pretende enfrentar nos próximos anos?
Coronel Aguiar: Pensando no futuro da aviação e do controle do espaço aéreo, o CINDACTA II tem metas claras para se manter na vanguarda da segurança e da eficiência. Nosso foco principal será continuar a modernização dos sistemas de controle, adotando novas tecnologias que garantam um monitoramento ainda mais preciso e ágil do tráfego aéreo, além de fortalecer nossa capacidade de defesa aérea. Entre os maiores desafios, está a crescente demanda por um espaço aéreo mais dinâmico, com um volume cada vez maior de aeronaves comerciais, militares e novas plataformas, como drones e aeronaves autônomas (EVTOLs).
Nos próximos 10 a 20 anos, a aviação brasileira deve passar por uma revolução tecnológica. Esperamos uma evolução significativa na integração de novos sistemas, como o uso de inteligência artificial e automação avançada para gerenciar o tráfego aéreo. A chegada de aeronaves autônomas e EVTOLs (veículos elétricos de decolagem e pouso vertical) vai exigir adaptações na regulamentação e, principalmente, na forma como controlamos o espaço aéreo em áreas urbanas. Essas aeronaves, destinadas tanto para transporte de passageiros quanto para entregas logísticas, vão demandar sistemas que permitam um controle seguro em altitudes mais baixas e próximas aos grandes centros.
A integração de drones será outro ponto de atenção. Já vemos um aumento no uso dessas aeronaves para diversas finalidades, desde entregas até missões de vigilância. O desafio aqui é criar um sistema capaz de integrar o tráfego de drones com aeronaves tripuladas, garantindo que a segurança do espaço aéreo não seja comprometida. Isso exigirá novas tecnologias de rastreamento e regulamentações claras para controlar esse tráfego de forma eficiente e segura.
Palavras de encerramento do Coronel Aviador Aguiar, Comandante do CINDACTA II
O CINDACTA II é mais do que uma organização militar; ele representa o compromisso contínuo com a segurança, a inovação e o desenvolvimento da aviação no Brasil. Temos uma relação saudável e aberta com a população civil, especialmente com os entusiastas da aviação, que compartilham conosco a paixão de voar e o desejo de ver o céu brasileiro cada vez mais seguro e avançado. Nosso trabalho vai além da defesa aérea e do controle do tráfego; ele reflete o espírito visionário de Santos Dumont, que nos inspira a inovar e a levar adiante o legado do "Pai da Aviação".
Agradeço imensamente à cidade de Curitiba e a todos que têm nos acolhido com tanto respeito e apoio. É uma honra fazer parte dessa história e contribuir para o crescimento e a segurança da aviação no Brasil. O CINDACTA II continua firme em seu propósito: garantir que o espaço aéreo brasileiro permaneça seguro, eficiente e um reflexo do pioneirismo e da ousadia que marcam nossa aviação desde Santos Dumont.
SUMÁRIO
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Coronel Aviador Aguiar - CINDACTA II