15/10/2024 | AERO em Revista
General Mattos e o Recorde de Altura

Entre os feitos notáveis da Brigada Paraquedista, destaca-se o recorde de altura alcançado em 1972. Em maio daquele ano, 10 militares realizaram um salto de 31 mil pés em queda livre. A missão, de altíssimo risco, foi executada com sucesso por três soldados e sete oficiais treinados.
A equipe embarcou no avião Búfalo no aeroporto de Guaratinguetá-SP. A subida transcorreu em silêncio, refletindo a concentração necessária para a tarefa. Aos 10 mil pés, o mestre de salto ordenou o uso das máscaras de oxigênio, já que a aeronave não era pressurizada, e o ar rarefeito, combinado ao frio intenso, começava a incomodar.
Apesar de muitos já terem saltado de grandes alturas, este salto, a 10 mil metros, estabeleceria um recorde na América Latina. O então Major Luís Carlos Mattos recorda que, embora conhecesse o equipamento utilizado pelos americanos em operações HALO (High Altitude, Low Opening), essa tecnologia estava fora do alcance das Forças Armadas Brasileiras à época. As luvas eram de lã comum e os óculos improvisados pelo DOMPSA, com plástico grampeado e fita isolante como acabamento.
O paraquedas, um Paracommander, era avançado para o período, mas não oferecia auxílio durante a queda livre de dois minutos e meio.
Ao atingir 31 mil pés sobre o alvo, os paraquedistas saltaram pelas portas laterais da aeronave. Em instantes, dez pontos negros despencavam em direção ao solo, atingindo velocidades superiores a 200 km/h. O frio extremo, de -40°C, congelou os óculos improvisados do major, que ao tentar limpá-los, viu o plástico se partir. As luvas de lã também não resistiram, deixando os dedos dos homens paralisados pelo frio.
Após apenas dez segundos de queda estabilizada, os paraquedistas já não conseguiam mais se ver. Cada um direcionou seu corpo para longe dos outros, evitando colisões no ar. A adrenalina ajudava a combater o frio cortante. A queda livre parecia interminável, e o alvo visualizado ao saltar da aeronave havia desaparecido. O altímetro, congelado, impediu a verificação precisa da altura, obrigando os saltadores a confiar no cronômetro ativado na saída da aeronave. Após dois minutos e meio, os paraquedas foram acionados, e a abertura ocorreu a 3 mil pés, conforme o planejado.
Agora, o desafio era encontrar um local adequado para o pouso. O major direcionou seu paraquedas em direção a uma pequena propriedade abaixo, distante do ponto de aterrissagem original. A única referência visível era a Basílica de Aparecida, a sete quilômetros do alvo inicial. O major conseguiu pousar em segurança, enquanto outro paraquedista aterrissou sem problemas em uma encosta próxima.
Esse salto se tornou um marco no paraquedismo brasileiro, sendo um ponto de referência tanto para militares quanto para civis que praticam o esporte, e simbolizando um período de grandes avanços na modalidade no Brasil.
Luís Carlos Gomes Mattos nasceu em 27 de julho de 1947, em União da Vitória/PR. Foi aluno da primeira turma do Colégio Militar de Curitiba em 1959. Foi aluno da Academia Militar das Agulhas Negras AMAN e progrediu na carreira militar do exército onde comandou importantes unidades militares do Exército, a exemplo do Regimento Escola de Infantaria (REI), onde foi comandante de pelotão; foi comandante de Companhia do 26° Batalhão de Infantaria Paraquedista e da Brigada Paraquedista, como general, chefiou o Departamento de Ciência e Tecnologia e foi o Comandante Militar da Amazônia.
O General Mattos foi nomeado ministro do Superior Tribunal Militar (STM), em 11 de outubro de 2011, tendo tomado posse em 19 de outubro.
SUMÁRIO
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General Mattos e o Recorde de Altura