15/10/2024 | AERO em Revista
A Brigada Paraquedista do Exército Brasileiro
O monstro de metal, com suas entranhas expostas, devora os homens de verde. Mas eles não são homens comuns; as grandes mochilas nas costas revelam paraquedas e suprimentos, prontos para resistir ao cerco inimigo. Logo, não permanecerão dentro do Hércules C-130.
O paraquedista precursor se abaixa na rampa de saída, analisa a rota e “sente o vento”, orientando o piloto e corrigindo o voo, se necessário. O mestre de salto grita as ordens ao grupo:
— Preparar... Levantar... Enganchar!
— Verificar equipamento! Contar!
Cada soldado inspeciona o equipamento do colega à sua frente, confirmando a segurança. Em seguida, o mestre dá o próximo comando:
— À porta!
O precursor, na liderança, mantém os olhos nas luzes de aviso controladas pelo piloto. Quando a luz vermelha apaga e a verde acende, ele grita o comando final:
— Já!
E, sem hesitar, salta para o vazio, seguido pelo restante do grupo.
Esse tipo de paraquedas, preso a um gancho conectado a um cabo resistente, abre automaticamente com a tensão gerada pelo salto. Esse sistema permite saltos a baixa altura, com o velame se abrindo quase de imediato.
O paraquedas T-10, utilizado nesses saltos, tem baixa capacidade de manobra e é ideal para lançamentos em áreas que não exigem precisão no pouso. Assim que o tecido verde se infla sobre sua cabeça, o paraquedista solta um grito de alívio:
— Velame!
Agora, o próximo desafio é o contato com o solo, treinado repetidamente para evitar lesões durante a aterrissagem. A partir desse momento, o soldado cumpre sua verdadeira missão de combate, determinado a honrar sua reputação como "Eterno herói".
O Início
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos criaram uma divisão do exército com a missão de invadir territórios inimigos pelo ar: os aerotransportados, ou «Airborne». Essa força obteve vitórias decisivas e se destacou por seu sucesso em combate. Inspirado nesse modelo, o Brasil criou em 1945 uma tropa semelhante, hoje conhecida como Brigada de Infantaria Paraquedista. Composta exclusivamente por voluntários, essa brigada tem um foco total no cumprimento de missões e seus rigorosos treinamentos moldam soldados com impressionante resistência física, coragem e agressividade. A forte camaradagem entre seus integrantes é fundamental para o êxito em operações onde penetram áreas inimigas já cercadas.
Além do comportamento, o visual de um paraquedista também é inconfundível: o "boot" marrom, a boina bordô e o brevê prateado com asas destacam esses soldados em qualquer lugar. Durante o treinamento, exercícios como agachamentos, flexões e marchas forçadas são constantes, exigindo uma resistência física superior, essencial para as exigências das missões paraquedistas. A brigada deve estar pronta para atuar em qualquer parte do território nacional em até 48 horas, seja em selva, caatinga, montanha ou pantanal, e sobreviver sem apoio logístico por até 72 horas. Após entregar o território conquistado a outra unidade do Exército, a Brigada Paraquedista é novamente lançada atrás das linhas inimigas para abrir caminho para as tropas aliadas.
O processo de seleção é rigoroso. A brigada recebe cerca de seis mil jovens voluntários de 18 e 19 anos, dos quais aproximadamente cinco mil são eliminados em exames médicos, entrevistas socio-psicológicas e no primeiro teste físico. Poucos conseguem passar nos desafios iniciais, como escalar uma corda de seis metros usando apenas os braços, correr 3,2 km em 12 minutos, e realizar diversos saltos, flexões e barras no mesmo dia.
Nas primeiras semanas, os recrutas recebem a instrução militar básica, aprendendo a marchar e realizar outras atividades típicas de quartel. Após um novo teste físico, os que permanecem ingressam no centro de instruções, onde passam por mais duas semanas de preparação intensa para se qualificarem para o primeiro salto. Muitos desistem durante essa fase, incapazes de suportar os rigores dos exercícios. A pressão psicológica dos instrutores é proposital, levando muitos a tocar o sino da desistência, um ritual público e humilhante. Os que resistem a essas quatro semanas estão prontos para o momento mais importante do curso: o primeiro salto a partir de uma aeronave, a mil pés (300 metros) de altitude.
Os recrutas precisam completar quatro saltos obrigatórios para conquistar o brevê, sendo o último o mais desafiador, simulando um assalto a uma força inimiga, seguido por uma marcha de combate que pode chegar a 15 km com todo o equipamento, que pesa até 60 quilos.
Conforme o curso avança, os soldados se especializam em funções como mestre de salto, precursor, mestre de salto livre e DOMPSA, o especialista responsável pela dobragem e manutenção dos paraquedas no Batalhão de Suprimento pelo Ar.
Com 15 quartéis e um efetivo de cinco mil homens, a Brigada Paraquedista, sediada na Vila Militar, no Rio de Janeiro, é composta por homens e mulheres de características especiais. Na entrada do primeiro batalhão, uma placa resume a política da unidade: "Tropa para homens de coragem e determinação." Esse rigor se justifica pelo fato de que, em situações de emergência, os paraquedistas são a primeira força a ser mobilizada, prontos para enfrentar a linha de frente em até 48 horas.
De três a quatro vezes ao ano, a brigada é testada quanto à sua capacidade de mobilização. Sem aviso prévio, os comandantes ativam uma rede de comunicações para localizar todos os soldados, onde quer que estejam, e garantir que cumpram sua missão.
SUMÁRIO
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A Brigada Paraquedista do Exército Brasileiro