20/10/2021 | AERO em Revista

O momento era de prosperidade para a província governada pelo interventor, Manoel Ribas, mas a contrarrevolução de 1932 armou Curitiba. A aviação dava um passo importante criando o Aeroclube do Paraná em uma área de 250 mil metros quadrados além uma estrada de acesso construída especialmente para as instalações do terceiro clube de aviação do mundo. A importância da obra pode ser medida quando se sabe que o próprio prefeito, Lothário Meissner, dirigiu pessoalmente as obras no Bacacheri. Neste mesmo ano, o 5º Regimento de Aviação preparava-se para construir suas instalações ao lado do Aeroclube, no Edifício da Escola Agrícola. A movimentação era intensa e os preparativos frenéticos para a chegada dos sete aviões Vough Corsair que chegariam em breve.

Embora os paulistas revoltosos já tivessem sido vencidos, em novembro deste ano, um inimigo inesperado acionou uma nova investida aérea. Os cariocas deveriam ser atacados, inaugurando uma nova fase de uma longa série de combates. Naquele domingo a cidade foi bombardeada por um Waco do Regimento Aéreo das forças de Getúlio Vargas. A missão foi dada ao 1º Tenente José Cândido da Silva Muricy Filho que deveria executar o bombardeio com precisão cirúrgica. O biplano Waco CSO, também conhecido como um dos “Vermelhinhos de Getúlio”, decolou às 14:00 horas em direção ao Alto da Glória, onde se desenvolveria a batalha. O piloto estava nervoso; tenso. Arremessar a carga para o ataque nestas condições era uma novidade. Jamais havia sido feito e havia riscos a serem calculados.

Embora o alvo estivesse bastante nítido, havia uma multidão de cidadãos perto da área a ser atingida. Soldados de ambos os lados se preparavam para o início do combate e aguardavam apenas o sinal que cairia do céu. O tenente reduziu a potência do motor e abaixou o nariz da aeronave. O chão crescia rapidamente e já era possível identificar a expressão de surpresa dos soldados em campo. A pouco mais de 20 metros do solo, o piloto lançou seu bombardeio... A bola atingiu exatamente o centro do gramado, inaugurando oficialmente o estádio Belfort Duarte, do Coritiba Foot Ball Club.

Nesta primeira batalha, o América do Rio de Janeiro perdeu por 4x2. Em seguida ao rasante, o Waco fez algumas evoluções sobre o campo e retornou para a base com a missão cumprida e a alma leve. Finalmente o avião seria utilizado para um bombardeio pacífico. Em julho, Santos Dumont, doente e deprimido por observar sua invenção sendo usada para agredir brasileiros como ele, durante a revolução Paulista, decidira tirar a própria vida. Muitos anos depois o mesmo campo era invadido por paraquedistas do Departamento Albatroz do Aeroclube do Paraná que se especializaram em demonstrações em campos de futebol do Paraná e Santa Catarina.

Em 1977, o estádio para 40 mil pessoas mudou de nome e passou a se chamar Estádio Couto Pereira em homenagem ao antigo major dirigente do clube. O ano de 1932 foi emblemático para a aviação brasileira e para o futebol paranaense. Embora o estádio tenha visto muitas batalhas, jamais sofreu outro bombardeio como aquele da sua inauguração.
 

ÍNDICE DAS PUBLICAÇÕES

SUMÁRIO da AERO em Revista nº1

1. História do Aeroclube do Paraná
2. O Biplano Fleet
3. O Bombardeio de Curityba
4. Comissária de Voo: Lilian Bastos de Andrade
5. O Departamento Albatroz de Paraquedismo
6. O Voo do Albatroz
7. O Porco Paraquedista
8. Perfil: Franco Giuseppe Rovedo
9. O Famoso Fairchild PT-19
10. Voando em Duas Rodas
11. O Edmundo e a Esquadrilha
12. Perfil: Walter Augusto da Silva