20/10/2021 | AERO em Revista
O Porco Paraquedista
Em 29 de julho de 1981, por ocasião do aniversário da cidade de Concórdia-SC, o «cirquinho» do Aeroclube do Paraná foi convidado para fazer uma demonstração de paraquedismo durante o evento. Em homenagem aos expoentes da suinocultura e de uma campanha para erradicação da peste suína, a Associação Catarinense de Criadores de Suínos – ACCS pediu uma atração inusitada: o lançamento de paraquedas de um porco que seria sorteado na festa. O novo atleta seria um belo “Large White” de 40 quilos.
A equipe Albatroz se reuniu e decidiu que não haveria nada que pudesse dar errado. O porco campeão seria equipado com um equipamento reserva T-7 acionado por Static Line enganchado. A turma da organização já havia providenciado uma vestimenta apropriada para o seu paraquedista especial, inclusive com o monograma da associação bordado no colete.
Devido ao grande número de pessoas no evento o animal estava muito agitado e parecia pressentir que faria seu primeiro salto de um avião. De fato, este é um momento crítico na vida de qualquer paraquedista. Os Albatrozes do Aeroclube costumavam receitar um conhaque do restaurante para firmar o pulso depois do batismo. Um veterinário local confirmou que não haveria perigo para o bicho, mas achou melhor administrar um sedativo para acalmá-lo durante o voo.
Antes da decolagem, outra visita menos amistosa se aproximou do avião tentando impedir o salto do novato. A Sociedade Protetora dos Animais ameaçou dar voz de prisão aos atletas se o porco fosse lançado. Sabendo se tratar de uma honra que poucos outros suínos teriam, a equipe resolveu fazer o lançamento de qualquer maneira e arriscar sua própria liberdade.
O Comandante Mário, no comando do Skylane PT-DGO, decolou com quatro paraquedistas a bordo: Maurício, Mário Jorge, Fábio e o Porco. A aventura radical mexeu com o organismo do animal que passou a ter um terrível desarranjo intestinal. O calmante tinha perdido o efeito e o novato se agitava muito, provavelmente envergonhado com o vexame que proporcionava.
A situação estava crítica e o avião do aeroclube já se encontrava salpicado de marron em seu interior, assim como os companheiros de salto. O rabinho giratório do bicho espalhava ainda mais o problema. Maurício orientou a reta para evitar que o lançamento ocorresse sobre os espectadores e lançou o animal em um campo vizinho. A abertura foi tranquila e era possível verificar as patas do suíno caminhando no ar. Em seguida, Maurício saiu no mergulho e estabilizou a queda a tempo de ver os dois companheiros saírem do Skylane.
Por um momento, o velame do Mario Jorge permaneceu encharutado e o Maurício fez uma lenha pousando sobre uma cerca de madeira. Até então, o porco estava sendo o melhor paraquedista da equipe. Em solo, a expectativa era tanta, que ao ver o pequeno herói local descer suavemente, a multidão rompeu a cerca divisória e perseguiu o porco que aterrou suavemente e saiu correndo do mesmo modo que fazia durante a navegação.
Todos queriam saborear o bacon do herói que fugia rebocando o velame. A tensão se intensificou por conta da polícia que foi acionada pelo pessoal da defesa dos animais. A turma queria a prisão imediata dos Albatrozes que lançaram o bichinho. O presidente do clube, cumpridor da lei, forneceu os nomes da tripulação do DGO que teria participado daquela “atrocidade”.
Para fechar a confusão, no dia seguinte, o jornal local estampava uma foto do então ministro da agricultura, Delfim Neto (gordo) ao lado da foto do porco paraquedista, além do nome dos quatro Albatrozes procurados... Todos os antigos companheiros já falecidos há muito tempo e homenageados pelo aeroclube.
SUMÁRIO da AERO em Revista nº1
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O Porco Paraquedista