19/10/2023 | AERO em Revista

Missão Phoenix: De Curitiba a Oshkosh

Em 1988, os pilotos Ruy Fernando Sant'Ana e Johannes Mey realizaram a "Missão Phoenix", uma viagem de 28.000 km em um Cessna Cardinal, partindo de Curitiba para Oshkosh. Enfrentaram desafios como mau tempo e burocracia, mas viveram experiências inesquecíveis ao longo de 135 horas de voo.
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A ideia de fazer uma viagem de 28.000 km em um avião monomotor nasceu, por brincadeira, num bate-papo de sábado à tarde no Aeroclube do Paraná, segundo revela o professor Ruy Fernando Sant'Ana, que em companhia do empresário Johannes Mey, ambos pilotos experientes, conseguiram cumprir a "Missão Phoenix", partindo de Curitiba no dia 16 de julho de 1988 e aterrissando em Oshkosh, Wisconsin, EUA, no dia 29 do mesmo mês a bordo do bravo Cessna Cardinal C177-B, prefixo PT-ILW. (As más línguas sugeriam que este prefixo significava “I Love Whisky”.

Uma viagem inesquecível sob todos os aspectos, repleta de bom humor, refeições deliciosas, locais maravilhosos, mas também de mau tempo, visibilidade marginal, CB's, perda de tempo, burocracia, solidão durante 135 horas de voo em 25 dias. Contudo, compensou o prazer de voar muitas horas, as sensações de atravessar o nosso país e conhecer as ilhas tão famosas do Caribe, o charme de voar nos Estados Unidos e a visita à Festa da Aviação Mundial em Oshkosh.

Conta Ruy que logo no começo da viagem a primeira surpresa foi a autonomia do avião, que era prevista em 5:30 horas. Perto do Rio de Janeiro, após quatro horas de voo, veio o susto: os indicadores de gasolina marcavam quase zero... Ao reabastecer no Aeroporto Santos Dumont-RJ, foi percebido que havia combustível ainda para meia hora de voo. A partir daí, limitou-se a viagem a trechos de no máximo quatro horas. O mau tempo começou a se manifestar já no segundo dia, pois o Nordeste estava completamente "embagulhado". Ciente da precariedade da autonomia, o terceiro tripulante, Hélio Bahia Corradini, desembarcou em Natal-RN e seguiu a viagem em avião de carreira.

A saída do Brasil foi um "parto com dor". Só se pode deixar o país de um aeroporto internacional. Depois de muitas peripécias sobre a selva amazônica, entre Amapá e Macapá, os dois turistas deixaram o céu brasileiro para enfrentar, já nas Guianas, as burocracias do reabastecimento, imigração, alfândega, meteorologia, plano de voo, com paradas nunca inferiores a duas horas. Mas sempre foram bem atendidos. 

O primeiro trecho sobre o mar foi de Georgetown (Guiana) a Piarco (Port of Spain), quando o NDB entrou logo, dando uma segurança adicional. Dormindo em Grenada, mini país famoso pela recente intervenção armada americana, pousaram depois no Aeroporto de Point Salinas, construído pelos cubanos para permitir a entrada dos bombardeiros russos, com uma pista enorme. 

O segundo pernoite foi no Caribe, numa ilha meio holandesa, meio francesa. O maior trecho sobre o mar sem escalas foi no percurso San Juan (Porto Rico) - Grand Turk - Provinciales, quase quatro horas. Novamente ocorreu ajuda de um NDB muito forte. Ruy e Mey, depois de um desvio de rota que, em função de ventos fortíssimos, deslocaram o avião até Andros Town, perto de Nassau, Bahamas, entraram nos Estado Unidos, via Fort Pierce, Flórida, aeroporto internacional de tráfego reduzido. Em Charleston, Jim e Anna mostraram a grande hospitalidade norte-americana. 

Voaram pela costa leste até New York, pousando no Aeroporto de Teterboro, New Jersey, um trecho muito congestionado onde é fundamental ter cartas atualizadas e falar bem inglês. Hoje, em algumas regiões, existe muita limitação à aviação em geral, em especial VFR, voos visuais. Existem as TCA's (Terminal Control Area), ARSA's (Airport Radar Service Area), CZ's (Control Zones), que dão muito trabalho. É essencial ter em mãos todas as frequências e estar preparado. Em Oshkosh, a grande festa incluiu shows aéreos e demonstrações, a convenção anual da EAA (Experimental Aircraft Association), comércio de produtos, exposições e concursos de "homebuilts"

Para os entusiastas da aviação, segundo nossos companheiros, é um evento imperdível. Mais de 50 países estavam representados, incluindo mais de 100 brasileiros. As grandes atrações foram o Concorde (realizando arremetidas e voos rasantes), o Sea Harrier (supersônico que decola e pousa verticalmente) e o B1 Lancer (novo bombardeiro americano).

Na volta, o Cessna Cardinal cruzou os Estados Unidos, passando por Wisconsin, Illinois, Indiana, Kentucky, Tennessee, Geórgia e Flórida. De volta ao Brasil, o PT-ILW, sob a habilidade de seus pilotos, fez o trajeto de Cayenne a Curitiba em apenas dois dias e meio, passando por Macapá, Belém, Imperatriz, Porto Nacional, Brasília, Uberlândia, Bauru, Ponta Grossa (sobrevoo) e Aeroclube do Paraná, completando 57 pousos.

Ruy e Mey concordam que, apesar das grandes surpresas da viagem, a recepção dos familiares e amigos no Bacacheri, em 13 de agosto, foi a maior emoção de um mês cheio de grandes momentos. Eles fazem questão de agradecer pelas "dicas" recebidas dos companheiros Hugo (em memória), Maldonado, Mauro (em memória), Jeferson, Diedan e Zanon (em memória), do querido Aeroclube. Também agradecem pelo apoio das empresas Helisul, Aeronautas, Supraero, Mirage e Nutrimental. Missão cumprida!


Ruy Sant'Ana, PhD, é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná e possui os títulos de Master of Science e Doctor of Philosophy pela Colorado State University, nos Estados Unidos. Atuou como professor na Universidade Federal do Paraná por 30 anos, onde lecionou diversas disciplinas voltadas à Engenharia de Recursos Hídricos em cursos de graduação e mestrado. Além disso, foi professor e palestrante convidado em várias instituições de ensino, abordando temas como Qualidade Total (TQM), Processos Criativos, Gestão da Inovação, Longevidade Empresarial, Strategic Foresight, Inteligência Artificial, Liderança e Aviação. Ruy também teve uma carreira de 30 anos na Companhia Paranaense de Energia (COPEL), ocupando funções técnicas em projetos de usinas hidrelétricas, incluindo Itaipu, e funções gerenciais nas áreas de Pesquisa e Desenvolvimento, onde foi superintendente, além de atuar na Diretoria de Marketing como diretor-adjunto e na Presidência como assistente. Ele também é piloto comercial com mais de 1.500 horas de voo. Criou e dirige o Instituto Ermínia Sant'Ana (IES) e coordena o programa IES/SIG.


ÍNDICE DAS PUBLICAÇÕES

 


 

SUMÁRIO

  1. Miguel e Dorival Munhoz Jr. EAA AirVenture
  2. Major-Brigadeiro Lauro Ney Menezes, o Supersônico!
  3. Ricardo Kirk - A primeira vítima da aviação no Brasil
  4. A Tragédia de Vinhedo: A Queda do ATR
  5. O Poderoso Super Heavy da SpaceX
  6. Sérgio Prata: Arte e Aviação
  7. Pedro Prata Garcia: O Designer Voador (1970 - 2003)
  8. Grupo de Escoteiros do Ar Brigadeiro Eppinghaus
  9. Lançamento da AERO em Revista nº2
  10. Os Paraquedistas na Operação Overlord
  11. EAA AirVenture Oshkosh 2024
  12. Missão Phoenix: De Curitiba a Oshkosh
  13. Johannes Mey: O Holandês Voador
  14. Caso de Aeroporto . Uma mãozinha
  15. Acidente de Paraquedismo
  16. Notas curtas
  17. Notícias Tristes